Equívocos e preconceitos - III
Desde domingo que venho publicando algumas reflexões sob este mesmo título com vista a dar uma perspetiva da importância da leitura da Bíblia para além do seu aspeto mais conhecido: o da religião. As mensagens que tenho recebido e os e-mails, dão-me bem a dimensão do interesse que o tema despertou. Espero ter contribuído para um aprofundar do tema e despertado o interesse pela leitura e, sobretudo, a predisposição à análise às entrelinhas, dum livro tão famoso como a Bíblia. Se para alguns esta abordagem é redutora, para outros ela vai no sentido da descoberta, sentido último da nossa caminhada na vida. Todos sabemos que pela religião e em nome dela, muito se fez, e nem sempre pelo lado mais construtivo. Muitos conheceram as prisões mais abjetas, a tortura mais horrenda, a morte mais ignóbil. A simples abordagem que aqui vos proponho duma leitura alternativa, seria mais do que suficiente para que, num outro tempo, fosse queimado num qualquer auto de Fé. O que prova que, apesar de tudo, muito caminho se fez desde então. Sempre as religiões se combateram mesmo nos dias de hoje, o que me parece um absurdo. Cada uma delas parece tentar demonstrar com esses atos, qual a mais verdadeira, qual aquela que apresenta, e representa, o 'verdadeiro' Deus. Confesso que em pleno século XXI me custa aceitar tal, embora saibamos todos, que nem sempre é assim, em locais onde a intolerância religiosa é definitiva. E isso leva necessariamente aos radicalismos que tanto sofrimento tem espalhado pelo mundo, como é bem visível nos nossos dias. Curiosamente essa intolerância acontece nos mesmos locais que à séculos atrás eram os pilares da ciência e do conhecimento. Coisas estranhas, que a Humanidade vai produzindo ciclicamente, e com isso vai espalhando mais dor, sofrimento e luto, pelo mundo, já tão massacrado por situações bem pouco construtivas. Enquanto o conhecimento é relegado para as trevas. Mas o debate foi lançado e parece que produziu os seus frutos. Não pretendo aqui desrespeitar as crenças de ninguém, até porque se o fizesse, estava a desrespeitar as minhas próprias crenças. Mas gostava de ver espíritos mais abertos a analisarem um livro fundamental no mundo, com a abertura para aprofundar conhecimento e interpretar com mais lucidez. O aceitar ferreamente o discurso oficial pode ser confortável, mas não é de todo o melhor para a descoberta e a compreensão duma realidade transcendental que as religiões encerram em si mesmas. E reafirmo aqui o que já venho a dizer à três publicações atrás: a Bíblia tem muitas leituras possíveis e delas se pode tirar grande conhecimento dum período particularmente importante da história da Humanidade. Enquanto escrevo estas linhas, vem-me à memória a frase de Frei Fernando Ventura quando afirmou: "Felizmente, Deus não tem religião". Este homem que tanto aprecio, um dos maiores biblistas dos nossos dias, é bem o exemplo daquilo que vos proponho. A leitura desprendida e sem preconceitos. De espírito aberto e grande latitude intelectual no sentido de compreenderemos o que de importante esse livro magnífico encerra e nos pode oferecer. E o que nos pode dar está muito para além da crença religiosa.
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