Equívocos e preconceitos - II
Pela reação que tive ao texto que ontem publiquei, - por mensagem privada e/ou por e-mail -, vejo-me na contingência de ir um pouco mais longe. Aqui reafirmo de novo que a Bíblia é um excelente manual de História. Da História duma época precisa na fita do tempo, que está muito para além do entendimento da nossa época. (Há até quem diga que a época em que esta foi escrita, será certamente, um dos períodos da História mais estudados e aprofundados, dada a quantidade de informação que a Bíblia nos transmite). Mas se algumas consciências se sentiram 'ultrajadas' - aquelas que vêm na Bíblia apenas e só um livro religioso -, outras há, que fizeram bandeira até com alguns arremedos sem sentido e, em alguns casos, esses sim, ultrajantes - aqueles que tudo põem em causa, sobretudo, aquilo que não entendem mas que julgam o contrário - uns e outros, mais uma vez, barricados nas suas trincheiras ideológicas, não são capazes de saltarem o muro dos preconceitos. Mas voltemos ao tema. A Bíblia como ontem afirmei, tem na sua génese muitas e saudáveis leituras. E, reafirmo, pode até ter uma leitura 'economicista'! (Aprendi algumas das coisas inerentes à Ciência Económica com Mestres que a utilizavam para nos mostrar a evolução do pensamento e da 'praxis' económica e, eu mesmo, mais tarde, quando dou formação a quadros superiores da banca e das empresas, a utilizo também com o mesmo propósito. E não tentem ver aqui um qualquer herege, digno duma qualquer fogueira, duma qualquer Santa Inquisição, dum tempo de antanho. Sou crente como sabem, mas isso não me tira a capacidade de olhar para as coisas com sentido crítico. Sempre fui capaz de dar uma latitude larga ao pensamento intelectual, goste-se ou não). Mas já agora, se para além da leitura histórica, filosófica, política, económica, social, se lhe juntar uma outra mais controversa, e dizer que até uma leitura 'erótica' é possível, podem crer que assim é. Sei que alguns 'puritanos' já se estão a erguer com a face ruborizada perante tamanho 'sacrilégio', perfilando-se de dedo erguido, condenatório de tamanho desaforo, mas antes de dizerem alguma coisa - que até se pode virar contra vós - tentem ler o Cântico dos Cânticos. Os Cânticos de Salomão - como também é conhecido - são um livro dum erotismo enorme e até, de certo modo, explícito. Talvez julguem que não porque a linguagem usada é dum outro tempo, e as sucessivas traduções e adaptações foram feitas para amaciar as coisas face aos tempos seguintes. Mas, talvez com algum esforço, consigam perceber o que lá se diz e duma forma explícita. Explícita para a época, sem dúvida, mais torneada para os nossos tempos que usam uma outra terminologia, disso não existem dúvidas. Esse aliás, tem sido um dos temas que normalmente se passa ao largo. Num conceito assexuado que se pretende impor - embora quando legitimado pelo 'contrato' de casamento até passa a ser uma benção - pois tudo isto são algumas das muitas contradições que o desenvolvimento das religiões têm, seja as de inspiração cristã, seja a de outras matizes. Daí que o conceito filosófico de abordagem dum livro tão importante como a Bíblia seja fundamental. E não tenham medo de o fazer. Não tenham receio dum qualquer 'pecado' induzido por um qualquer demónio que ande por aí. As coisas são bem assim e até já o foram ensinadas de forma clara. Coisas que os tempos hodiernos - sempre tão viciados em tudo - tentam escamotear. Vejam a filosofia do caterismo, e da maneira sangrenta como foi reprimido, até à nova abordagem de Maria Madalena. Coisas dos textos apócrifos, dirão os puristas. Mas que eles existem é um facto. E não devemos ter medo de os estudar. (Como se costuma dizer é a escutar o diabo que melhor podemos apreciar a voz de Deus). Só assim compreenderemos a(s) religião(ões) na sua verdadeira amplitude. Sem preconceitos. Se calhar é por aí que se irá um dia buscar o tão ansiado diálogo civilizacional que todos falam, mas para o qual tão poucos contribuem.
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