À memória de um ser vivo
Ontem quando fui ao abrigo alimentar o cão e os gatos, tive uma das mais terríveis experiências da minha vida. A cerca de meio caminho cruzei-me com um gato ostentando uma coleira vermelha sentado em plena via. Sorte a minha que ia devagar e evitei um acidente que seria fatal para o bichinho que fugiu para o passeio onde me ficou a ver passar. Não sei se por falta de experiência de andar na rua, se pura e simplesmente, estava perante um gato radical. Lá segui viajem sem saber o que alguns quilómetros mais à frente me ia acontecer. Passo numa zona onde andam vários coelhos selvagens em plena via pública. Tenho sempre algum cuidado quando por lá vou porque sei que isso acontece. Ontem, não foi exceção. De repente, e sem que nada me indicasse isso, os faróis do carro iluminaram um desses pobres bichos ainda pequeno. Encandeado pelos faróis do carro, tentou ir para a outra via, mas vinha outro em sentido contrário. Ainda tentei passar pelo meio dele sem o atingir. Mas foi impossível. Ele acabaria por sucumbir depois de atropelado. Para muitos que lêem estas linhas, talvez nem percebam este desabafo. e então se praticarem a ignóbil atividade de caçadores, ainda se rirão de mim. Mas deixemos isso. Para mim, atingiu proporções enormes. Foi a primeira vez que tirei a vida a um ser na estrada em mais de trinta anos de condução. E não é agradável podem crer. E logo comigo, que tanto defendo a vida e os animais, esta experiência foi terrível. Todo o dia me senti bastante incomodado com o facto. Estou a escrever estas frases para de certa forma exorcizar os meus pensamentos, os meus fantasmas, se é que isso é possível. Mas a dor continua lá. Daqui a pouco vou sair para ir alimentar de novo o cachorro e os gatos. Vou passar no mesmo local. Estou de coração apertado. Espero que hoje as coisas corram melhor. Só me resta pensar que, pela rapidez do atropelamento, o bicho não tenha sofrido muito e tenha tido uma morte rápida. Nada mais podia fazer. Que esteja em paz é tudo o que lhe desejo. Que me perdoe esta atitude, mas foi-me impossível evitar o acidente. Há dias assim. Logo pela madrugada. Com esta sensação de que me sinto um assassino. Coisas estranhas que nos acontecem, e logo quando estamos a tentar ajudar outros seres, tão desgraçados como este, a terem uma vida um pouco melhor.
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