O elogio da ignorância
Vi hoje uma notícia que aparece na capa do JN que me deixou no mínimo perplexo. A notícia dava nota dum relatório do Conselho de Educação onde se dizia que Portugal era um dos países onde os alunos mais chumbavam. Até aí nada de novo. Basta olhar para o perfil duma parte significativa dos nossos alunos para não termos dúvidas sobre isso. Mas o mais interessante era que o mesmo relatório propunha um ensino menos teórico e mais 'leve' - não sei qual o termo que lá se dizia - para que os alunos pudessem contrariar a saga de chumbos. Isto deixou-me boquiaberto como deixará qualquer pessoa de bom senso e que preconiza um ensino o melhor possível para as novas gerações. O que estes senhores parece pretenderem afirmar é que o melhor será passar os alunos, mesmo que estes não saibam escrever o próprio nome (coisa que até nem é difícil de encontrar) em nome dum 'ranking' de boa saúde educativa que não temos de todo. Duma outra forma, parece que estamos perante aquilo que se pode designar como o elogio da ignorância, que nem precisa de ser elogiada porque a vemos todos os dias. Culpa dos professores dirão uns. Culpa dos alunos dirão outros. Culpa do sistema (que tem as costas largas) dirão ainda outros. Com certeza que culpa terão todos, uns mais do que outros, mas não me parece haver inocentes neste processo. Os professores, - alguns mas não necessariamente todos -, vendo com desagrado a sua situação profissional, apesar do seu possível profissionalismo, não deixarão de ser menos exigentes. Os alunos porque são solicitados pelo muito que a sociedade envolvente lhes oferece onde tudo é prioritário e o estudo ficam para os tempos livres. O sistema porque poderá não ser o mais ajustado, mas mesmo assim, não me parece tão mau quanto isso. E não me venham falar dos países nórdicos porque lá, apesar dum sistema diferente do nosso, existe muita exigência, bem longe do que por cá se diz fruto da ignorância - sempre a ignorância - de muitos que de países nórdicos só lhes conhecem o nome. (Conhecerão mesmo?) E como a ignorância parece estar na moda cada vez mais, lá vamos fabricando doutores - até com mestrado e doutoramento - que não são capazes de escrever uma simples carta! (Não pensem que estou a exagerar porque conheço casos desses, alguns que até colaboraram comigo profissionalmente!). E assim vai o ensino em Portugal, cheio de gente com o mínimo de 12º ano, com muitos doutorados e quejandos porque é importante que a Europa veja. Mas não lhes peçam para fazer nada porque, uma percentagem significativa, nem sabe por onde começar. E se os colocarem frente a um grupo de pessoas a dissertar sobre as suas matérias de especialidade, então ficaremos verdadeiramente estarrecidos. Seja como for, o culto aí está do quanto pior melhor. Já se escreveu sobre o 'elogio da loucura' dum tal Eramus - será que sabem quem foi? - agora parece que se quer escrever um novo capítulo que se pode muito bem chamar o 'elogio da ignorância'. E podem crer que terá muitos e 'importantes' seguidores. Coisas deste tempo, dirão. Pois é, mas as novas gerações são sempre o futuro das nações. E a nossa não está tão bem entregue quando possam imaginar. Mas nada para desanimar, pois então. Que viva a ignorância!
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