Em memória do senhor António que era carpinteiro
Passaram ontem quatro anos sobre a morte do senhor António. Este senhor, carpinteiro de profissão, era meu vizinho. Conheci-o desde os dez anos de idade e a memória que guardo dele era duma pessoa muito trabalhadora e respeitadora. Sempre me tratou como um adulto, tendo eu apenas dez anos de idade, o que me fazia sentir 'importante'. Pela vida fora esse respeito consolidou-se, até aumentou, algo a que o evoluir da idade permitia. O senhor António era uma pessoa humilde, metida no seu mundo, a que a surdez aguda de que sofria, fazia com que fosse afastado da convivência com terceiros. Muitas vezes me procurou para pedir conselhos, sobretudo quando algum problema se perfilava no horizonte. E alguns teve ao longo da sua vida. Aqui o trago de novo, quatro anos volvidos. Já fora de tempo porque ontem foi a data do seu passamento, e só uma conversa à minutos com uma das suas filhas me trouxe de novo à realidade. Mas porquê falar de novo do senhor António? Porque ele o merece, sobretudo na minha humilde ótica, mas também por uma conversa que tive com uma sua neta à dias. Coloquei um vídeo já antigo de Elton John com uma célebre canção 'Nikita' e vim a saber que esta canção era do agrado do senhor António. Apesar de décadas de convívio e vizinhança, não sabia que era admirador do popular cantor inglês. E afinal era-o. Coisas curiosas com ligações improváveis, mas que nos fazem pensar nesta caminhada da vida com mais acertividade. Afinal temos mais coisas que nos liguem do que aquelas que nos separam, e esta é uma curiosidade que pode bem ser encaixada nesta ideia. Como então disse à sua neta, e aqui publicamente reafirmo, todos os dias tenho um pensamento para o senhor António. Mas a vida parece escrever direito por linhas tortas. O senhor António era o bisavô da minha afilhada Inês. Afinal é um ciclo que parece que fechou ao fim de tantas décadas. É curioso. Ou talvez não. Ele faz parte dum período da minha infância, depois da minha juventude e adolescência, e mais tarde, já na minha fase adulta. Sempre senti nele esse respeito maior que talvez eu não merecesse, afinal ele tinha idade para ser meu pai, talvez até avô, e a maneira como me tratava recentemente até me deixava incomodado. Nunca fui dado a grandes vénias, mas o respeito que esse senhor mostrava ia muito para além disso. Ontem, passou mais um ano, o quarto, a que não quero ficar indiferente. A memória fica porque as memórias perduram no tempo enquanto houver alguém que as cultive. Lá onde estiver, que esteja em paz!
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