Turma Formadores Certform 66

Monday, April 09, 2018

No centenário da batalha de La Lys

Passaram cem anos sobre esta fatídica carnificina. Uma carnificina em tudo igual a tantas outras que continuamos a assistir nos nossos dias. Gente morreu sem saber bem porquê. Gente lutou sem saber porque o fazia. Gente foi levada ao limite por algo que nada tinha a ver com eles. São assim as guerras. Todas iguais e sem sentido. A de La Lys durante a I Guerra Mundial assume uma particular expressão porque portugueses participaram nela. Mal preparados. Mal equipados. Sem objetivos. Se em África nos tínhamos imposto, aqui era bem diferente. Não conhecíamos o terreno. O clima frio do norte a que não estávamos habituados fez a diferença. Mas não só. Todas as guerras têm sempre um lado incompreensível. Dos muitos que por lá andaram, dos muitos que por lá morreram, haveria certamente muito que falar. Mas quero falar-vos duma outra pessoa, ele também soldado, ele também combatente em La Lys. Ele também um soldado anónimo. Trata-se do meu avô paterno. Para lá foi sem saber ao que ia. Por lá andou no sofrimento e no medo que eram a companhia de todos. No cheiro a morte que se lhe apegou como sarna. Teve mais sorte e voltou. Mas as sequelas do conflito vieram com ele. Das condições infra humanas por que teve de passar, do gás que não matou mas que se entranhou, da fome e sede que foram seus aliados. Voltou e ainda viveu alguns anos. Mas os males que sofreu nesse terrível conflito que com ele vieram, haveriam de fazer a sua colheita. Morreu ainda novo. Ao que dizem em grande sofrimento. Nunca o conheci. Nem dele tenho uma qualquer fotografia para o recordar. A minha mãe também nunca conheceu o sogro. Ele era mais uma vítima dum conflito absurdo, como absurdos são todos os conflitos. Aqui fica a memória do seu neto que nunca viu. Neto que ele nunca conheceu. Para memória futura. Para que a bestialidade humana seja sempre denunciada. Ele era apenas mais um. Mais um soldado anónimo no meio da carnificina. Ele foi mais uma vítima do ódio humano. Ele foi mais um português que combateu em La Lys!

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