Em torno da greve dos enfermeiros
Tenho evitado vir a terreiro falar sobre esta greve: primeiro, porque sou a favor do direito a ela, segundo, porque até acho que os enfermeiros têm razão. Tenho amigos enfermeiros e até enfermeiros na família, por isso, não estou tão distante do problema quanto isso. Mas apesar disto, sou dos que estão em clara oposição a esta greve porque as razões dos enfermeiros não são o móbil da greve, aparecendo apenas em segundo lugar. O verdadeiro móbil da greve é claramente político. A começar pela atitude da senhora Bastonária, que mais parece uma líder sindical, e a quem ninguém ouviu uma palavra quando o governo anterior pela voz do seu líder Passos Coelho quando convidou estes e outros a emigrar. E alguns perceberam a mensagem e foram embora. Nesse número como é sabido existiam muitos enfermeiros. Porque seria que a senhora Bastonária esteve tão silenciosa nesses tempos de chumbo? Será que já pararam para pensar sobre isso? Depois temos um sindicato filiado na Intersindical que não desconvocou a greve e que até prometeu intensificá-la como é o caso do SNE. É bom perceber que em tempos de eleições, o PCP se queira demarcar do governo embora o apoie. Um pé dentro outro fora como é apanágio dos comunistas. E ainda outro que até tem o seu líder em 'greve de fome', o Sindepor que, pertence à UGT. Se o simples gesto do seu líder já não fosse por si só ridículo. Há para todos os gostos. Mais uma vez, a configuração política da greve enquanto o problema real dos enfermeiros fica para trás. Como disse antes, tenho gente que conheço que pertence a essa classe profissional e bem sei aquilo que me dizem em surdina, longe dos areópagos da política. Sei que é assim e os portugueses também sabem, daí a falta de popularidade da greve. Basta ver a sondagem que o Expresso publicou à cerca de duas semanas, se não estou equivocado, para se ter uma ideia clara da situação. E ignorar isto é passar um atestado de menoridade às populações. Se há alguns que podem deixar-se embalar com estas melodias, há também outros que pensam estas questões. Já nem quero aqui falar da falta de profissionalismo de alguns de que fui testemunha, como aconteceu com o meu pai, a minha mãe, o meu sogro e, mais recentemente, a minha mulher. Não discuto esta questão porque nesta profissão como noutras, existem os bons e os maus profissionais. Mas nesta hora de conflito tudo isto vem à tona e seria bom que esta profissão tão nobre não se deixasse enredar em esquemas que não são os seus nem têm por móbil as suas justas aspirações.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home