Os anjos da morte
Durante a doença e morte do Nicolau fui por variadas vezes assolado por mensagem para - segundo afirmavam - 'o ajudar a partir'. Sempre achei este eufemismo como algo que me cheira a descartar os seres, sejam pessoas ou animais. É como se me dissessem, ele já não vale nada, manda matá-lo e segue em frente. Sei que nesta sociedade cada vez mais desumanizada há defensores destas teorias da morte, servidas em papel brilhante de laço a preceito e sem o tema 'morte' que não convém prenunciar. Não sou contra quem o defende, mas sempre me achei do lado daqueles que defendem a vida em vez da morte. Se isto é ser antiquado pois sê-lo-ei de consciência tranquila e leve que nem uma pena. Nunca nenhum animal que passou pelas minhas mão foi 'assassinado' e o Nicolau sê-lo-ia ainda menos. Se tenho latitude mental para aceitar quem pense de maneira diferente da minha, já não tenho tanta assim, quando estas pessoas invadem espaços de outros com as suas promessas dum paraíso ali ao fundo a fornecerem soluções que não pedi de todo. São aquilo que chamo de 'anjos da morte' por mais bem servida que seja. Gostava até de um dia saber se essas pessoas seriam tão lestas nestas decisões caso se tratasse delas próprias, porque já sei que se fosse referente a terceiros o fariam com à-vontade, o importante é que a pessoa partisse e deixasse de dar trabalho. (E já agora, que tivesse um testamento a deixar bem materiais ou outros, isso seria o ideal). Penso que pessoas que pensam desta maneira, - as tais que são tão evoluídas inteletualmente -, deveriam parar um pouco e pensar se têm o direito de invadir o espaço de outros com as suas propostas radicais. Cada vez mais penso que essas pessoas tão 'evoluídas' afinal nem sequer têm tempo para achar o que é bom ou mau, o conveniente ou o inconveniente. Mas é assim, o mundo descartável em que vivemos, onde quem já não pode, está a mais parece estar na moda, a tal moda que eu liminarmente não acompanho. Mas isso até nem é novidade nenhuma, eu faço parte do outro grupo, dos 'cotas', de inteligência limitada, a desagregar-se - se é que tive alguma ao longo da vida - e como tal não estarei à altura de tão ousados pensadores, que pensam e tomam decisões da vida e da morte... dos outros.
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