Vaidade versus pobreza
Ontem foi mais um daqueles dias gratificantes. Cruzei-me de novo com Frei Fernando Ventura um frade capuchinho andarilho do mundo e um dos maiores biblistas a nível mundial. (É mais conhecido como comentador da SIC Notícias onde habitualmente aparece). Já não estava com ele à quase um ano. Tive uma longa e gratificante conversa com este homem de cultura. Hoje falou-me do tema da vaidade versus pobreza, - daquela mais mundana que todos conhecemos - e a conversa foi crescendo e da pobreza mais profunda para além de tudo o resto. Dizia-me ele que 'vaidade' vem do hebraico 'יהירות' que quer dizer também vazio e pobreza vem de 'עניים' que também se pode traduzir quase pelo mesmo e ambas quase que têm o mesmo sentido. E então ele glosava sobre aquela vaidade que nasce da vacuidade que é comum a tanta gente. Falava-me daquelas pessoas para quem a vaidade era uma forma de encher um espaço vazio do seu interior mais profundo. Fazia a ponte para a Bíblia e falava-me de Mateus que usava o termo vaidade como algo sem qualquer atitude, gesto, palavra, o vazio absoluto, no fundo, a maior das formas de pobreza que é a incapacidade de partilha com o outro, o que faz dessa pessoa uma pessoa pobre. A conversa foi evoluindo ao correr da discussão, e no fim Frei Ventura ainda me disse, 'há tantas pessoas pobres (vazias) que apenas têm dinheiro'. Um remate feliz para uma conversa muito profunda, daquelas que gosto de ter com Frei Fernando Ventura, que nos enche o espírito e nos eleva a alma. É muito gratificante termos quem nos eleve acima da mediocridade - da tal vaidade versus pobreza que Ventura glosou - que é tão comum no nosso dia a dia. Ontem foi um daqueles dias plenos onde nos sentimos incomodados, atingidos, e voltamos para casa a meditar naquilo que ouvimos. Como gosto de falar com ele e receber aquelas paredes enormes de palavras e de filosofia que se abatem sobre mim como cataratas de água. Obrigado, Frei Fernando Ventura, por me enriquecer no verdadeiro sentido da palavra, me apoquentar, me questionar, me interpelar, me pôr a refletir. Sempre que me cruzo com este grande sábio é como se uma luz imensa se abatesse sobre mim e mostrasse aquilo que a comum visão não pode enxergar. Ontem foi um daqueles dia que ficam na memória.
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