Legislativas de 2019
Na refrega das Legislativas 2019 o mapa político alterou-se substancialmente. O PS tem mais votos do que a direita junta o que leva a que o governo que sair das eleições possa aprovar os seus diplomas apenas com a abstenção da esquerda parlamentar. Situação bem diferente da que se verificou na legislatura anterior. Isto significa que a hipótese duma geringonça 2.0 está posta de lado, pelo menos com a configuração e atuação que vimos no passado recente. Pela primeira vez a extrema direita entra no Parlamento e isso deve trazer-nos alguma reflexão e preocupação. É certo que tal se verificou pela recentragem do CDS de Cristas mais ao centro e menos à direita. Cristas pensou assim ir ocupar algum espaço do PSD, que entretanto se deslocou mais para a esquerda com Rio, mas tal não surtiu efeito. Estes votos que saíram e que foram para os partidos mais à direita, podem voltar ou não numas próximas eleições. O PSD está com margem de crescimento, mas o CDS parece estar no seu estado natural. Sendo certo que o partido teve uma derrota pesada com Cristas, não podemos comparar com aquilo que seria na legislatura anterior, visto ter concorrido coligado com o PSD integrando o PaF. Mas tenho dúvidas se a percentagem de votos no CDS é meramente conjuntural ou se é mesmo estrutural. Esta última hipótese parece a mais plausível. Certamente que quem vier substituir Cristas tentará levar o partido mais para a direita e com isso ir buscar os votos perdidos para a direita mais radical. Contudo, a experiência diz-nos que o que custa é entrar no Parlamento, depois tudo se torna mais fácil, e a ser assim, poderá o CDS ter chegado à sua dimensão ótima. É um pouco a Lei de Murphy em funcionamento. À esquerda deu-se um fenómeno curioso, sobretudo no PCP. É sabido que este partido tem um eleitorado mais ou menos fixo, não sujeito a grandes oscilações. A queda abrupta do partido pode indiciar o preço de ter suportado o governo PS durante quatro anos, mas também, um novo ajuste do eleitorado face o PCP. O BE está dentro do seu eleitorado tradicional e o PAN teve uma subida espetacular. Já se esperava que o PAN viesse a ter uma votação melhor, mas a que teve, deve estar para além de tudo aquilo que os próprios dirigentes do partido imaginavam, mesmo na melhor das hipóteses. A entrada de novos partidos está em linha com o que se vem verificando na Europa em geral. Inclusive ao nível elevado da abstenção. Nem o apelo dramático do Presidente da República alterou a situação, visivelmente não colheu grande aderência junto do eleitorado. É certo que esta legislatura vai ter desafios importantes, desde logo o Brexit, que terá, inevitavelmente, consequências em Portugal. O mesmo se dirá das guerras comerciais entre os EUA e a China, e este os EUA e a UE. Mas para além disso, o eleitorado europeu vive bem numa Europa que teve avanços significativos nos últimos anos, o que leva a um certo desprendimento do eleitorado da participação cívica. Daí os elevados níveis de abstenção que se verificam em todos os países da UE. Embora, como ontem dizia Nuno Melo do CDS, há pessoas que simplesmente querem estar fora, é uma opção. Isso pode ser uma atitude irrefletida que poderá ter consequências no futuro. Mas o certo é que assim é. Agora resta saber que governo vai ser formado, com que apoios vai contar e sob que forma. Embora ache, como referi atrás, que vai ser bem diferente da solução da última legislatura. Tudo isto vai começar a partir de agora. Afinal, hoje é o dia seguinte.
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