Turma Formadores Certform 66

Friday, March 20, 2020

Um quadro controverso

Venho hoje falar-vos dum quadro que despertou (desperta?) alguma controvérsia e dum museu que conheço muito bem. O museu é o Musée d'Orsay em Paris e o quadro é 'A Origem do Mundo' de Gustav Courbet. Já há um par de anos atrás vos falei deste quadro controverso quando algumas pessoas quiseram associá-lo a uma pintura pornográfica até havendo quem defendesse a censura da obra. Gente de pouca inteligência que de arte apenas lhe conhece o nome que tentam exibir para assim passarem por aquilo que de facto não são - inteligentes. Voluntariamente provocadora, esta obra distorce as regras vigentes até então. Regras que reservavam - ou pelo menos toleravam - nus inscritos nos contextos das grandes cenas mitológicas ou oníricas, sem se confrontarem diretamente ao real na sua crueza mais extrema. Afinal é daqui que a origem da vida humana surge (daí o seu título) sem que disso nos envergonhemos. Ainda me recordo quando vi esta obra pela primeira vez. Era então bastante jovem e aquilo até me pareceu um pouco estranho num museu como este. Depois fui percebendo, falando com pessoas do meio, que me foram descodificando a obra despindo-a dos preconceitos que então tive. E é assim que evoluímos e aprendemos. Gustave Coubert rejeitava os nus planos e, claro, os nus idealizados da pintura académica. Na época em que foi pintada, 'A Origem do Mundo', podia ser considerada como pornográfica. Contudo, a obra não tinha vocação pornográfica e podia ser até ser considerada como "aquela que dava a última palavra do Realismo". Na verdade, existe representação mais fiel da origem do mundo, tal qual conhecemos? Obra centrada na representação sensorial e intelectual que fazemos, na qual o sexo e o ventre de uma mulher são transmissores dos segredos do dar à luz, à vida e, portanto, dar origem ao nosso mundo? O Museu d'Orsay é uma antiga estação de comboios que foi transformada em museu. A sua entrada é formidável com uma grande coleção de estátuas de tirar o fôlego. Este foi o primeiro museu que conheci em Paris, e daí a impressão que tive e que me acompanha pela vida. Uma coisa que muito me impressionou foi o ver tantos jovens das escolas de Paris a terem as suas lições dadas pelos seus mestres em pleno museu. Nunca esquecerei isso porque algumas dessas pessoas eram bastante jovens e o simples facto de as levarem para um espaço de cultura como este é, na minha opinião, importante. Mais tarde vi que isso se repetia noutros e tive pena que no meu país isso não acontecesse.

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