A morte de Eduardo Lorenço (1923-2020)
Recebi a notícia a meio da manhã de hoje, tinha falecido o Prof. Eduardo Lourenço, depois duma vida longa que durou 97 anos. Muita coisa já foi dita sobre ele ao longo da sua vida. Muita coisa se dirá a partir de hoje depois da sua morte. Por isso, não vou aqui repetir clichés. Nunca o conheci pessoalmente - embora uma vez tal esteve para acontecer num colóquio em que eu também ia participar, mas Eduardo Lourenço não veio à última hora - e assim ficou adiado um encontro que nunca aconteceu. Eduardo Lourenço foi até hoje um dos maiores pensadores vivos entre nós. O homem que nos pensou como povo, que pensou Portugal. (A ironia foi que a maioria da sua obra foi escrita em francês país para onde se exilou por não concordar com o Portugal cinzento duma ditadura bafienta). Portugal não o merecia, como não merecia os homens que então o conduziam. Lá conheceu a sua mulher o que viria a ligá-lo ainda mais ao país de exílio. Comecei a estar próximo dos escritos de Eduardo Lourenço ainda jovem fruto do incentivo que tive de alguns dos grandes mestres com quem tive o privilégio de estudar. Com ele aprendi a pensar, a interpelar, a discorrer. Com ele aprendi que a humildade nos eleva e que a arrogância nos esmaga. Com ele aprendi aquele sentido da vida prático e interpelativo, distendido e desprendido, que Lourenço tão bem personificava. Com ele aprendi que o sentido da vida é por vezes absurdo e que 'a morte é só isso, não pode ser escrita nem pode ser descrita', Eduardo Lourenço dixit. Com ele aprendi que o pensamento é a mola impulsionadora do mundo. Hoje tive esta notícia fatal e final. Eduardo Lourenço tinha-nos deixado. Obrigado por tudo aquilo que nos deste, obrigado por tudo aquilo que me deste. Descansa em paz, Eduardo Lourenço!
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