47 anos de Abril

Era madrugada, uma madrugada fria como acontece em abril, quando tudo começou. Só tive conhecimento do sucedido quando me dirigia para a escola. O sussurrar nos transportes indiciava que algo estava a acontecer. Nessa altura já os dados estavam lançados. A ditadura estava a chegar ao fim. Durante o dia, e depois de se conhecer o que se estava a passar, já ninguém voltou às escolas ou aos empregos. As ruas encheram-se de gente na sua ânsia de liberdade. Embora ainda houvesse alguma incerteza sobre o que iria acontecer, já a população dava como adquirido o fim do velho regime. Nessa noite ninguém dormiu. O dia seguinte clareou com o sabor da liberdade depois da rendição dos ditadores ao fim da tarde do dia anterior. Mais uma página da nossa História se tinha virado. As expectativas eram muitas, os anseios eram arrebatadores. Muitas coisas iriam acontecer desde esse dia de libertação. Uns bons, outros nem por isso. Mas o comboio da História nunca se pode parar e este também correu célere. 47 anos depois, já com algum distanciamento histórico, podemos olhar e ver o muito que se fez e o tanto que ficou por fazer. Mas os grandes momentos da História são assim mesmo. Nada muda com um clique. Depois de toda a agitação, muito tempo passou até serem buscados novos equilíbrios. Era tudo novo aquilo que os militares de Abril nos propunham. O sonho foi-se tornando realidade, paulatinamente, sem aquela urgência que se reivindicava. Mas tudo estava definido. Era a mudança que aparecia ao sabor e com o aroma perfumado dos cravos. Foi à 47 anos que 'da madrugada se fez dia' como diria o poeta. E que dia. Viva o 25 de Abril!