Turma Formadores Certform 66

Friday, July 02, 2021

Os mistérios insondáveis da vida

Na passada terça feira fui visitar uma  amiga que via quase diariamente sempre com aquele ar frenético que lhe conhecia desde há muitos anos. (Conhecia ainda ela andava no ensino básico e como bem me lembro de a ver na sua bicicleta cor de rosa sempre impecavelmente vestida coisa que sua mãe não abdicava). Estava longe de pensar no grave problema que a apoquentava. Hoje com 60 anos está a definhar minada por um cancro já em fase terminal. E de repente o mundo parece que desaba sobre nós. Porque ontem estamos bem e hoje poderemos estar no fim da linha. Impressionou-me ver o seu rosto cavado, bem longe daquele outro sorridente que lhe conheci. À cerca de três semanas tinha-a visto num café nas proximidades. Ainda com o seu ar normal a disfarçar uma doença de que já tinha conhecimento mas que não queria partilhar com ninguém, mas contudo no seu rosto havia algo de diferente. Falou comigo e com outra pessoa que lá estava, e o seu olhar perpassou pelo meu numa fração de segundo, tempo suficiente para ter percebido que algo estava mal. Não sabia o quê, mas achava que era grave. Três dias depois foi hospitalizada e o fatídico veredito foi dado. E é nestes momentos que pensamos na inutilidade da vida, naquela luta frenética para superar o outro, para acumular, para ser mais importante do que o outro, e eis que, chegados a momentos destes, vemos o que estulto fomos. Esta visita foi-me penosa. É sempre difícil ver alguém em fim de linha, ainda por cima com esta doença que deixa marcas profundas. A minha mãe, - que era uma grande amiga dela -, morreu também com esta doença. Sei o que passei então. Naquela altura como que repeti a cena. Muitas memórias me atropelaram naquele momento. Fez-me pensar neste mistério que é a vida, e no insondável desígnio que é a morte. Foi um dia pesado para mim. Só a amizade que lhe tinha me levou a ir vê-la. Sabia o que ia encontrar. Este momento será sempre de introspeção, de reflexão, de aprendizagem do sentido da vida e da morte. Algo muito pesado se abateu sobre mim. Ainda não recuperei. Este é o tempo de meditar, o tempo de estarmos sós com nós mesmos.

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