Mimetismo incendiário
Todos os anos temos uma espécie de série televisiva trágica refiro-me aos incêndios florestais. Sabemos que este estilo de jornalismo catástrofe é que vende mais, mas mesmo sabendo isso, penso que temos que repensar um pouco este circo mediático. Os media, especialmente televisivos, tornaram-se quase uma espécie de 'jornal do crime'. Anteontem era o mediatismo dum qualquer julgamento que antes de o ser já havia culpado condenado na praça pública, ontem era a covid, depois os incêndios, a seguir virá uma outra coisa qualquer. Esse expôr situações dramáticas duma forma explícita, quase despudorada, com emissões em direto como se de um jogo de futebol se tratasse, levará a um efeito de mimetismo que será sempre perigoso. Alguns dos incendiários detidos dizem que atearam o fogo porque gostam de ver tudo a arder, mas também pelo efeito de todo o aparato que as televisões mostram. (Não estou a dizer que são os media culpados pelos incêndios ou pela motivação dos incendiários, quero apenas dizer que por vezes se potenciam situações destas junto de pessoas emocionalmente mais instáveis). Isto para não falar de outro tipo de criminosos com motivos menos prosaicos. Não sei se alguém já se debruçou sobre este tema ou não, mas penso que seria um bom ponto de partida para uma análise - e uma abordagem - um pouco diferente da problemática dos incêndios. Como ponto de partida talvez se deve-se eleger um ano em que o mediatismo fosse mais contido - como experiência piloto - para no fim se contabilizar os resultados desta situação. Isto sem por em causa o nobre dever de informar. Se nada se fizer estaremos sempre a ter uma espécie de série televisiva (trágica) anual em torno desta matéria. E para o ano haverá (infelizmente) mais uma temporada com uns tantos episódios. Julgo que é altura de se pensar 'out of the box' e analisar os resultados no fim. Assim haja vontade política e jornalística para tal.
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