A Igreja Católica e o abuso a menores
A semana passada mais uma vez a montanha pariu um rato. Quando todos aguardávamos que a Conferência Episcopal Portuguesa tomasse uma posição clara sobre a temática dos abusos sexuais a menores no seio da Igreja assistimos ao impensável, uma conferência de imprensa atabalhoada, irrelevante e sem sentido. Como católico senti-me ofendido com aquilo que vi e ouvi. Não se pode varrer para debaixo do tapete a sujidade que assola a Igreja Católica e fazer de conta que tudo está limpo e arrumado. Por mais que me custe tenho que dizer que isto é o espelho da Igreja em Portugal. Depois de termos assistido a um membro relevante do clero, no início dos trabalhos da Comissão de Inquérito, anunciar que não haviam casos em Portugal porque afinal nada teria acontecido, algo que depois teve que engolir em seco, tudo aquilo que o relatório trouxe a lume fora aquilo que ainda anda por aí e que não se chegou a apurar. Esta é a verdadeira imagem da Igreja portuguesa, uma Igreja dissimulada, esquiva e mentirosa. Se dúvidas houvesse sobre a maneira enviesada como uma parte substancial do nosso clero olha para o Papa Francisco, se dúvidas ainda existissem, elas caíram nestes últimos dias. É sabido que desde os cargos mais elevados da Igreja em Portugal até muitos padres de paróquia, o conservadorismo serôdio é lei, e tudo aquilo que imana do Papa Francisco é olhado com desdém. A Igreja sempre tão lesta a falar de muitas coisas da sociedade a começar pela indicação de voto nos períodos eleitorais, e disso sou testemunha, agora remete-se ao silêncio, um silêncio ensurdecedor e cúmplice. A Jornada Mundial da Juventude que se vai realizar em Lisboa está à porta e será uma boa altura para o Papa dar o puxão de orelhas que tão necessário é à nossa Igreja. Habituados durante décadas a encobrir os maiores abusos, a Igreja sempre tão prepotente nunca pensou ser publicamente confrontada com aquilo que de mais podre existe no seu seio. Mas isso aconteceu e em vez de se assistir a um repúdio e punição dos infratores, assistimos a uma complacência embaraçosa e o esperar que o tempo se encarregue de fazer esquecer tudo o que se passou. Isso é a pior atitude que a Igreja poderia tomar porque põe a nu a fragilidade, a corrupção, o conluio que prolifera no seu seio. Nunca esperei que tal sucedesse e estou visivelmente incomodado com tudo isto. Mas a Igreja tem que corrigir a mão rapidamente porque se já agora as celebrações contam cada vez menos com os fiéis, de futuro a situação ainda se vai agravar porque as populações deixam de acreditar no organismo, qual último reduto, em que ainda acreditavam. Como se pode ler no Livro da Revelação, mais conhecido por Livro do Apocalipse, esta era em que vivemos será a era em que tudo será revelado, mesmo os segredos mais escondidos acabarão por vir à luz do dia. A Igreja por maioria de razão deveria ter conhecimento disso e proteger-se. Não o fez quando devia e agora tenta menosprezar o óbvio. Por maus caminhos vai onde a perdição está ao dobrar da esquina. Precisamos cada vez mais duma Igreja ativa. Cada vez há menos espaço para os irrelevantes.
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