50 anos de liberdade e democracia
Meio século de liberdade e democracia que hoje se comemora é também a memória dos bravos capitães de Abril que puseram fim à mais longa ditadura da Europa. Como recordo aquela manhã quando ia para os meus estudos e vi os carros blindados apontados à Câmara do Porto. Como recordo a festa na escola quando se soube o que estava a acontecer e a tarde já com sabor a liberdade. Como recordo aqueles jovens e menos jovens que pisaram as cadeias deste país para que fossemos livres. Mas também houve outros que perderam a vida apenas porque queriam participar da revolução. (Ainda andam por aí algozes que nunca foram condenados, - vá-se lá saber bem porquê, talvez um dia a verdade venha a lume -, que se acoitam no Parlamento como deputados naquilo que é a maior ofensa à democracia.) Cinquenta anos depois os fascismos andam por aí, - cá dentro e lá fora -, a seduzir jovens que não sabem o que é viver em ditadura. Com pezinhos de lã e discursos inflamados lá vão arregimentando alguns. Outros por desilusão, por ignorância ou por tibieza, também vão na onda. Mas é preciso resistir. É preciso dizer o que é viver em ditadura. Aquela que fomentou a guerra colonial, aquela que proibia a mulher de sair do seu país sem consentimento dos pais ou marido, aquela que impedia a mulher de votar - e os outros também - numa fantochada inenarrável, aquela que impedia o divórcio, o aborto, aquela que idolatrava a família num cínico embuste, - veja-se o escândalo dos 'ballets rose' -, onde tudo parecia certo à superfície, enquanto a violência sobre a mulher e os filhos no lar eram a norma, aquela que permitia a tortura, a prisão arbitrária, os tribunais plenários, a polícia política dentro das Universidades. Os jovens de hoje que não passaram por isto, não o compreendem, talvez até duvidem. A geração mais velha, aquela que hoje celebra o 25 de Abril de à cinquenta anos tem que fazer o seu trabalho explicando a verdadeira realidade anterior a Abril. Se isto está a acontecer é porque não fomos capazes de fazer esse tal trabalho com cuidado e persistência. Meio século depois ainda muito há para cumprir, como sempre haverá. Não existem revoluções perfeitas apesar desta ter sido um exemplo para o mundo. (Só por curiosidade, ainda à cerca duma semana, um conhecido professor universitário e comentador político foi convidado para uma palestra na universidade de Berkeley nos EUA, para falar do 25 de Abril, porque ainda hoje há um certo fascínio pelo que aconteceu e como aconteceu). Como dizia Churchill "apesar de tudo a Democracia ainda é o melhor dos regimes." Meio século depois e apesar de muitas coisas menos prosaicas temos que dizer que sim, valeu mesmo a pena. Viva o 25 de Abril!
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