Pornocracia ou o conceito dos novos censores
Confesso que hesitei em escrever sobre tão triste assunto que mais me parecia uma brincadeira de Carnaval. Mas não era, tratava-se duma apreensão dum livro numa feira de livros que se realizava em Braga. Tenho dificuldade em rever, passados trinta e quatro anos sobre a instauração da democracia em Portugal, que os novos censores tenham regressado. Tudo tem a ver com um livro de seu nome "Pornocracia" um romance da autoria de Catherine Breillat tendo na capa a reprodução dum célebre quadro de Gustave Courbet de 1866 (!) (quem diria!) que viria a provocar tamanha polémica. Alguns papás de Braga ficaram, pelos vistos, muito ofendidos. Estão no seu direito, mas não podem obstar ao direito dos outros. Como é que estes pais explicam aos filhos o sexo? Qual a educação sexual que lhes fornecem? Será que ainda explicam que as criancinhas vêm numa cegonha de França, como acontecia no meu tempo? Isto vem pôr a nu (atenção censores!), a hipocrisia que ainda existe na nossa sociedade, mas também a ignorância, a iletracidade de muitos, o analfabetismo de alguns. Esta atitude só nos vem mostrar que Portugal, para além dos esforços das autoridades, ainda não foi capaz de dar a cultura suficiente a este povo que faz com que continuemos a ser a chacota da Europa. A ignorância do tema, a confusão do termo "pornocracia" com "pornografia", a ignorância dum quadro famoso do século XIX, enfim, convenhamos que é ignorância a mais. Já agora, e porque este espaço não é o da crítica pela crítica, mas um espaço que se pretende culturalmente activo, aqui fica a explicação do termo "pornocracia" que, por exemplo, está disponóvel na Wikipédia, basta apenas um clique:
"A pornocracia (do grego porne, prostituta e kratein, governo) foi um período na história do Papado que se estendeu da primeira metade do século X, com a instalação do Papa Sérgio III em 904 por sessenta anos, e terminou após a morte do Papa João XII em 963. Algumas fontes afirmam que este período foi menor, tendo durado apenas 30 anos e terminado com 935 com o reino do Papa João XI.
Durante este período, os Papas eram fortemente influenciados por uma poderosa família aristocrática em especial Teodora e sua filha Marozia. Acredita-se que Marozia tenha sido concumbina do papa Sérgio III e mãe do Papa João XI. Ela também foi acusada de comandar o assassinato do Papa João X para favorecer seu favorito a tornar-se Papa Leão VI."
Durante este período, os Papas eram fortemente influenciados por uma poderosa família aristocrática em especial Teodora e sua filha Marozia. Acredita-se que Marozia tenha sido concumbina do papa Sérgio III e mãe do Papa João XI. Ela também foi acusada de comandar o assassinato do Papa João X para favorecer seu favorito a tornar-se Papa Leão VI."
Aqui fica o contributo para que os traumas de infância de algumas pessoas, dignos de Sigmund Freud, sejam ultrapassados pelo conhecimento e pela cultura. Podemos perder tudo, até a nossa liberdade, como noutros tempos aconteceu neste país (e agora, não?), mas a nossa cultura, a capacidade de pensar o mundo que nos rodeia, essa ninguém pode aprisionar. Atitudes como esta só "beneficiam o infractor", para utilizar uma linguagem futebolística, tal só serviu para dar publicidade acrescida, e o editor irá, com certeza, fazer um bom negócio, beneficiando de publicidade gratuita. A foto anexa, é a tão polémica obra célebre de Gustave Courbet (1819-1877), mas não pensem que é de algum artista depravado dos nossos tempos, é uma obra do século XIX, quem diria... Como um conhecido jornalista português, já desaparecido diria "e esta, hem!".
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