Turma Formadores Certform 66

Thursday, March 28, 2013

Feliz Páscoa para todos!

Estamos chegados à Páscoa! Nesta caminhada pela Quaresma em direção à  festa maior do Cristianismo, fica uma sensação de que é tempo de revisitarmos a nossa vida com aquilo que de bom, ou de menos bom, se passou. Como venho afirmando esta época representa sempre para mim o vazio de quem tem os seus entes queridos já há muito a engalanar a galeria de ausentes que, em períodos como este, assumem particular relevo. Apesar dos muitos anos passados, eles parecem estar presentes, ali ao esticar do braço na ânsia renovada dum toque, dum afago, duma carícia. Enquanto escrevo, vem-me à memória as palavras de Fernando Pessoa: "Enquanto houver você do outro lado,  eu consigo me orientar". Só que o outro lado, está para além do tangível, apenas a imaginação nos faz trazer de volta aqueles que povoaram a nossa vida há muito, que lhe deram forma, que lhe transmitiram valores daí, por vezes, a dificuldade da orientação. A ausência é mais sofrida nestes períodos mais solenes que marcam mais a nossa vida e nos convidam à reflexão. E quando falo de ausentes, não me refiro só àqueles que noutro tempo foram nossos semelhantes vivendo os mesmos anseios, as mesmas angústias, os mesmos medos que nós atualmente. Mas nesta galeria há sempre um lugar importante para os meus queridos amigos animais que também, a seu modo, me ensinaram muito daquilo que a vida me tem dado ao longo do tempo. E se eles encheram a minha vida desde criança, nunca deles deixei de evocar a memória, porque a seu modo, foram importantes, foram determinantes. Perdi uma destas minhas amigas há poucas semanas. O vazio ainda se faz sentir, sobretudo, quando chego a casa e não tenho o latido estridente que a Estrelita fazia para saudar a minha chegada. Hoje, passadas cerca de três semanas sobre a sua morte, vejo-me a ir ver se ela está a dormir, se precisa de algo, como se ela ainda estivesse no seu lugar habitual. A razão ainda não se habituou ao sentimento de perda! No momento em que escrevo tenho outra amiga, - a Tuxa -, a sofrer de cancro da mama, com a morte já anunciada embora quem a veja não perceba isso. Uma lutadora, uma sofredora, mas sempre determinada como se não ouvesse amanhã. Estes são apenas alguns dos exemplos que poderia dar que, pela sua proximidade vão marcando mais estes dias. Mas também lembro aqueles seres que vão ser - ou já foram - sacrificados em nome dum credo, duma religião que se pretende de amor, de amor incondicional a todos sem exceção! Animais sacrificados por ritual ou simplesmente para encher a opípara  mesa. Coisa vã onde o humano transformou em inferno a vida destes seres que estão cá há mais tempo do que nós com os seus direitos que espezinhamos, que ignoramos, como se fossemos deuses (bem menores) dum mundo arbitrário. Mas neste dia de reflexão queria também não esquecer a natureza, com o seu colorido, com os seus cheiros, com o seu brilho que também povoam a nossa existência. Natureza amachucada todos os dias por estes candidatos a deuses que todos queremos ser. Não percebendo que estamos a destruir o ecossistema que permite a vida, a dos outros seres mas também a nossa, num equilíbrio de fio de navalha que se pode romper a qualquer instante. Olhando para trás, fica a ideia de que não fomos capazes de evoluir tanto assim. Embrulhados em conceitos, superstições ou simplesmente em estupidez, que pretensamente nos coloca acima de tudo e de todos. Vã glória esta que pagaremos caro mais cedo ou mais tarde. Neste calvário que vamos subindo à medida que a vida nos vai dando mais e mais caminho para percorrer, percebemos que ainda estamos longe da redenção. Todos a buscamos, - embora nem sempre tenhamos consciência disso -, em que os sinais de dificuldade que a vida nos vai premiando nos tempos que correm, nos ajudam também a refugiarmo-nos em sentimentos duma certa espiritualidade há muito esquecida, e que a sociedade luminosa do consumo imediato rapidamente ocultou. Agora que tudo isto passou, somos forçados a recomeçar, a assumir como na estória que, a exemplo do rei, também nós caminhávamos nus sem disso dar-mos conta. A Quaresma tem destas coisas, leva-nos por vezes a refletir duma forma mais triste, mais cinzenta como este tempo quaresmal, na nossa condição humana. Quanto a mim, vou fazendo este calvário da vida enquanto o tempo me der caminho para percorrer, em busca duma redenção pedida, - qual Graal -, nunca atingida plenamente mas com a plena consciência de que está ali, algures. Hoje esse Graal tem assumido a forma da minha queria afilhada Inês, a Inês do meu contentamento, a mais belo flor do meu jardim de Outono. A caminhar para o ano e meio de existência, ainda não sabe o que representa para mim, embora a avidez com que quer vir para a minha casa me dê uma alegria imensa, porque a vejo feliz, porque persinto que se sente bem por cá, porque - talvez - sinta o imenso amor que a envolve. Este ser de luz, que muito tem iluminado a minha vida, há-de continuar a fazê-lo, estou certo, com o mesmo carinho com que a acolho. A Inês é uma espécie de fim de linha, de luz num calvário de sombras, de amor que destrói a dor, de tolerância que afasta a negatividade, de brilho onde a opacidade campeia. Nesta Páscoa veio-me tudo isto à memória, a memória de alguém que já percorreu muito do seu caminho, que já passou por vitórias e derrotas, glórias e infortúnios, amores e desencantos. Mas tudo isto serve também para nos fazer crescer, nesta caminhada que todos estamos a fazer, rumo a um estádio maior, mais perfeito e sublime, mais luminoso. Chegado aqui parecem-me ajustadas estas palavras de William Shakespeare no seu King Lear: “Quando nascemos choramos ao vermos que aterramos neste palco de loucos”. E assim se vai fazendo a caminhada, melhor dizendo, esta reflexão para a Páscoa celebrada sempre com rituais que se repetem. Como costumo dizer nestas ocasiões quero desejar uma Boa Páscoa a todos os meus amigos que frequentam este e outros espaços, a todos aqueles de quem não gosto tanto, também aos outros que não gostam de mim. Todos vós sois seres que abrilhantam a minha existência, que me ajudam na caminhada, que povoam este mundo que é o nosso. A todos sem exceção uma Feliz Páscoa!

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