Turma Formadores Certform 66

Monday, March 18, 2013

A origem da crise - (Dos anos 50 até aos nossos dias)

Muito se tem falado de crise, embora poucos tivessem ensaiado uma explicação para ela. Desde logo os políticos - estes e não só - a quem a explicação não interessa de todo. Mas passemos a uma visão mais explicativa do que sucedeu. Desde logo, a Europa, sim porque esta crise começou bem longe das nossas fronteiras contrariando aqueles que acham que teve a ver com a governação do anterior executivo. Daí o dever dizer-se que esta crise é uma crise ocidental num sentido mais abrangente e mais correto. Mas para ensair uma explicação devemos pensar num problema. Todos vão falando na crise do euro como se este fosse o motivo de tão aziago descontrole. Mas ninguém até aqui parece ter pensado na crise europeia - mesmo que a Europa supere a do euro - como a crise mais evidente da dependência energética e da industrialização da China e do oriente duma maneira geral. Esta situação já tinha começado a desenhar-se ao longe, qual tempestade que se aproxima, mas a que ninguém deu atenção. Tudo aparece com mais evidência se nos debruçarmos sobre quais foram as políticas de sustentação do modelo de desenvolvimento económico seguido. Se olharmos para a evolução da taxa média de crescimento do PIB, facilmente veremos que as economias das décadas de 50 e 60 do século passado eram sustentadas pela própria economia, quer isto dizer, as economias cresciam a um ritmo grande de 5 a 6% ao ano, onde tudo era possível, mantendo este elemento sustentável para suprir todas as necessidades de que a economia carecesse. Era a ideia dum "El Dorado" infinito. O quase pleno emprego era uma realidade. Todos nos lembramos - sobretudo os mais velhos - das elevadas taxas de juro que os bancos davam nos depósitos que incentivavam à poupança, sobretudo em economias mais pequenas como a nossa onde nem havia onde gastar o dinheiro. Mas a partir das décadas de 70 e 80 do século passado, esta sustentação começou a ser feita não já pela economia mas pela inflação. Porque se antes a economia gerava riqueza suficiente, chegou um tempo em que tal já não era assim, e aqui entra a dependência energética da crise petrolífera que começou em 1973 e teve um forte impacto na Europa e entre nós nos finais do regime anterior do Estado Novo. Mais uma vez apelo à memória dos menos jovens, e com certeza estes recordarão as imensas filas de automóveis juntos dos postos de abastecimento. Para manter ainda um emprego elevado ia-se emitindo mais e mais moeda o que penalizava os detentores de capital enquanto os trabalhadores não davam por nada porque para eles a situação mantinha-se. Nessa altura as economias europeias ainda dispunham de moeda própria - cada país tinha a sua - e os Estados colmatavam esses efeitos criando moeda, isto é, quando as necessidades apertavam e as economias não criavam a riqueza suficiente tapavam-se estes "buracos" com novas emissões de moeda que, como todos sabemos, são fator de criação de inflação. Daí o dizermos que as décadas de 70 e 80 tiveram na inflação a variável de sustentação do modelo. A partir daí, desde a década de 90 até aos nossos dias, o modelo foi sustentado pelo endividamento público e privado, isto é, sobretudo depois dos países terem aderido à UE e ao euro e não poderem emitir mais moeda por sua livre e espontânea vontade, as economias tiveram que ir buscar junto de terceiros, (economias com mais fôlego), o dinheiro para manter a sustentação do nível da economia. Estas alterações embora profundas, nem sempre tiveram a devida atenção e/ou perceção por partes do cidadão comum, que via o seu nível de vida aumentado, a segurança social estabilizada, os salários a crescer, a saúde tendencialmente gratuíta, o ensino gratuíto, as reformas apelativas, etc., e nunca ninguém lhes explicou que isso não poderia ser sempre assim. Apenas o emprego dava sinais de se ir esgotando pouco a pouco. Só para vos dar um exemplo, o produto criado em Portugal nos anos 90 (cerca de 20 mil milhões de euros) foi francamente inferior à dívida criada (cerca de 21 mil milhões de euros) - o produto criado não dava já para a despesa - com uma receita tributária cada vez menor (cerca de 6 mil milhões de euros), o que desde logo, leva a que a despesa seja superior à receita, e cada vez mais, criando mais e mais endividamento que se contraía para que tudo parecesse normal como dantes. Aqui está a justificação para os defices brutais que começamos a apresentar. É certo que aqui o poder político teve um papel fundamental, desde logo, porque não equacionou a situação, porque isso levaria a uma queda de votos e as democracias - e por consequência os partidos - vivem disso. Este é um dos defeitos das democracias, que inquinam, desde logo, os técnicos que mal chegam ao poder viram políticos e, mesmo que saibam o rumo que as coisas estão a levar, não o dizem aos cidadãos. E assim, em termos simples chegamos aos nossos dias, e este governo, dirão alguns, diz que não governa para eleições e talvez tenha razão, mas isso não deriva de querer ser mais sério do que os outros, mas tão só porque está endividado, não tem onde ir buscar dinheiro, e por isso está a descoberto sem que possa lançar mão seja do que for. Esta é a essência da crise, mas convém dizer que, a evolução desta tem um grande paralelismo com as restantes economias europeias, e a evolução década a década, segue os mesmos passos e até o mesmo ritmo. E agora, só nos resta a ajuda das economias do centro e norte da Europa. mais estáveis e ricas que impõem as condições para emprestar e que todos vamos sentindo na pele dia após dia. Desde logo a Alemanha que vive com o pavor da inflação - fenómeno que conhecem bem pela devastação que teve na sua economia, quer no pós-II Guerra Mundial, quer mais tarde a quando da reunificação com a antiga Alemanha de Leste - o que conduz a que sejam aqueles que mais exigências impõem aos países sobre programas de ajuda. Esta é, duma maneira simples mas que penso clara, uma explicação do que sucedeu. Resta apenas dizer que esta situação era visível a partir dos anos 70 e que foi sistematicamente ignorada porque era necessário dar a ideia de que as economias cresciam até ao infinito. Era a altura do crédito fácil, do juro barato - o que fazia com que não ouvesse interesse em poupar -, das férias pagas, do crédito para a casa e o carro, e para sei lá mais o quê. O modelo esgotou-se, a situação é a que é, e levará várias décadas até estabilizar. Tenho afirmado por diversas vezes que este trabalho é duma geração pelo menos, muitos me têm contestado, mas a realidade vai-me dando razão. Na semana passada o ministro das finanças afirmou que esta situação levaria cerca de 20 ou 30 anos a desaparecer! Estou convencido de que assim será, e só agora alguém o disse porque a dependência é tal e a penúria imensa que já não dá para iludir o problema. Estamos a caminhar para um estado de serviços mínimos, por mais que me custe dizê-lo, e para reformas simbólicas. Simbólicas as nossas, a da geração seguinte já nem sei se a terá. E quando o governo nos acena com mais um ano, isso não vai contribuir para a nossa felicidade. Apenas vai arrastar o problema porque não se faz um equilíbrio das contas públicas em situação recessiva e, assim sendo, o ter mais um ano, ou mais dois ou três é indiferente. E estamos em recessão desde há algum tempo. Não sei o que move Gaspar quando ensaia esta deriva. Todos já vimos no que dá. As medidas restritivas geram recessão, que por sua vez leva a mais medidas restritivas que geram mais recessão. Isto em economia chama-se "espiral recessiva". E não pensem que é apenas uma questão de semântica.

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