Equivocos da democracia portuguesa - 243
Hoje foi dia de mais um debate quinzenal na Assembleia da República. Para aqueles que esperavam vir a obter mais informações sobre a situação gravíssima do país, tal não se verificou, aliás, como vem sendo habitual. Numa altura em que o desemprego se aproxima de um milhão de desempregados - embora, como já muitas vezes aqui dissemos, está próximo do milhão e meio se considerarmos aqueles que estão fora da proteção social, e consequentemente, não estão inscritos nos centros de emprego e nos muitos que emigraram -, numa altura em que o Eurostat vem afirmar que a queda do PIB português foi a maior da zona euro, seria expectável que o PM viesse reconhecer a situação e predispor-se a alterações de rumo. Mas nada disso se verificou. Passos Coelho vem fazer a apologia da sua governação, indiferente aos números que friamente aparecem de todos os lados a afirmarem o contrário, parecendo que está a governar para um país virtual em que só ele parece acreditar. Este governo acossado - já não podem sair para lado algum sem um exército de seguranças atrás -, neste governo isolado - basta ver as manifestações que cada vez são mais numerosas e transversais à sociedade portuguesa -, o governo parece que tem um outro paradigma que vai para além do país que deveriam representar. Não desconhecemos a necessidade de algumas correções, descartamos a ideia de que a dívida não é para pagar, mas sacrificar no altar do défice a vida de milhões de famílias parece-nos verdadeiramente inconcebível. O PM vive numa espécie de alienação, duma austeridade a qualquer preço, baseada numa total insensibilidade social, onde os seus concidadãos são algo descartável. Durante o debate, muitas vezes foi confrontado com o problema do desemprego, e sobre ele, nem uma palavra, nem uma ideia. Foi confrontado com as medidas que está a negociar com a "troika" nas costas de todos nós, e aqui também se recusou a esclarecer. Afinal este governo está no poder à cerca de dois anos para quê? Continua a lamentar-se com o passado, que é a maneira airosa que qualquer incompetente e irresponsável tem de aligeirar as suas responsabilidades. E no entretanto, como vivem os portugueses? Vítor Gaspar esta semana em Bruxelas terá afirmado que "gostava mais do elogio dos seus confrades europeus do que se importa com os prostestos em Portugal"!!! Isto diz bem do grau de desaforo a que chegamos. Um governo que já não atende aos portugueses, a Portugal. Sabemos da ânsia de Gaspar ir ocupar um lugar na Europa, mas isso não pode levar a que descore este país que é também o seu. E com isto, a democracia vai-se paulatinamente atrofiando, afundando até, porque é nos momentos de crise e de desesperança como este em que vivemos, que as soluções messiânicas aparecem. E todos sabemos ao que elas inexoravelmente conduzem...
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