Turma Formadores Certform 66

Friday, January 16, 2015

Controvérsias da História Oriente versus Ocidente

Nos últimos dias temos assistido a um recrudescer de animosidade entre povos. Tudo isto depois do bárbaro atentado em Paris. Ontem na Bélgica parece que se estava a preparar algo semelhante. Chegados aqui, penso ser tempo de interrogações ou pelo menos de reflexões. Sempre que o Estado e a Religião se misturam, acabamos sempre por ver atitudes destas, fruto de fanatismos que de certo modo traduzem o subdesenvolvimento dos povos. Nós também não estivemos imunes a eles noutros tempos. É da História a barbárie que o Ocidente espalhou no Oriente a quando das cruzadas. (Especialmente a quarta, que ainda hoje é recordada com horror). Teve o beneplácito da Igreja que nessa altura também ela impunha as leis que a política seguia. Tal como vemos hoje nos países islâmicos onde o grau de desenvolvimento não estará longe daquele que na altura de vivia na Europa nessa altura longínqua. (Refiro-me à população em geral e não aos senhores do poder e da religião, naturalmente. Veja-se o que se está a passar na Nigéria onde até crianças de dez anos são usadas como bombas). E só conseguimos emancipar-nos dessa situação quando os estados laicos apareceram levando a que política e religião tivessem o seu espaço próprio, nem sempre coincidente. (Para melhor se compreender a situação, veja-se o nosso caso, durante o Estado Novo, onde apesar da laicizade aparente do estado, de facto, a religião tinha um peso importante mesmo na política, e o subdesenvolvimento era a regra). Hoje olhamos para esses povos do Oriente e não conseguimos perceber o que lá se passa. (No Oriente a maior chacina são de muçulmanos entre si, como aconteceu no Ocidente com os cristãos a dilacerarem-se duma forma feroz. Até aqui existem similitudes). Não nos podemos esquecer que esses povos - do Oriente - deram-nos muito da sua famosa cultura. Desde logo o astrolábio tão importante para a navegação que os nossos marinheiros de seiscentos tanto utilizaram. A criação do zero que parece ser uma coisa comesinha mas que teve uma enorme importância na matemática e nas descobertas que a seguir se fizeram. Isso para já não falar na sua medicina avançada para a época, na sua arte de trabalhar o cobre e o estanho que os ocidentais de seiscentos nem conheciam, na sua música. Então o que levou a este aparente retrocesso? Como se verificou no Ocidente, a religião foi ocupando um papel cada vez mais pertinente na sociedade, e toda a evolução seria um desrespeito. Tudo isto liderado por homens que fanaticamente impõe a ignorância às suas gentes, porque só assim é que se conseguem impor sem limites - coisa que nós conhecemos muito bem - impedindo que frequentem as escolas, sobretudo as mulheres - porque a ignorância é o fruto da felicidade para tais pessoas. (Por cá, não estamos muito longe de situações bem similares. Os menos jovens ainda se lembram que a maioria das mulheres apenas fazia as instrução básica porque os estudos mais elevados eram para os homens. A mulher era para estar em casa e cuidar dos filhos. Até o direito ao votos que só conseguiu à cerca de quarenta anos. E isto foi há tão pouco tempo, meus amigos!) Daí que estes povos ainda estão à espera - diria há demasiado tempo - de se libertarem duma oligarquia que os mantém na ignorância escondidas - as mulheres - por trás dum véu, os homens - por trás duma arma fabricada por ocidentais. Tal como o Ocidente teve a sua Revolução Industrial, as suas revoluções libertadoras como a que ocorreu em França em 1789 que tanto influenciou a Europa da época. Afinal pensamos que somos tão diferentes - e somos - mas já fomos tão iguais há bem pouco tempo. Mas para além deste conflito civilizacional, o importante é não confundir "jhiadistas" com muçulmanos, tal como não podemos confundir cristãos com cruzados, ou senhores da guerra com população humilde. Há que respeitar a diferença, combatendo os abusos, que justificam tanta coisa até o terrorismo, com a aproximação dos povos para que se conheçam melhor. (A diferença religiosa é apenas um pretexto. Afinal todos veneramos algo superior a que chamamos Deus, embora o façamos de modo diferente. Afinal o islamismo também é uma religião do Livro). E se é importante que o Ocidente olhe para o Oriente não para o acusar mas para o compreender, o Oriente terá também que fazer o mesmo. Mas enquanto houver pessoas como ontem aconteceu que na Arábia Saudita - que até tem relações com os EUA - achar que "todo o infiel é terrorista", não terão autoridade moral para exigir que o Ocidente brinque com caricaturas - embora estas por vezes possam ser excessivas - numa zona do globo onde a liberdade de expressão é sagrada. Liberdade de expressão que nestes países não existe porque quando tal se verificar, não haverá mais lugar para gente desta que vomita ódio contra o Ocidente apenas para desviar as atenções da ostentação em que vivem face à miséria que impõe às suas gentes. Ostentação que, também ela, financia o terrorismo extremista, como acontece com a Arábia Saudita, o Kowait e o Qatar. Para além da política e da religião, estão povos que devem esforçar-se por se conhecerem. Quando isso acontecer, - dum lado e doutro -, veremos que afinal são menos as diferenças do que aquilo que pensávamos. Até lá, viveremos neste terror que afinal recai sobre todos quer ocidentais quer orientais, numa saga sem fim.

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