Turma Formadores Certform 66

Saturday, January 03, 2015

Duas mensagens equívocas

É da tradição durante o período natalício escutarmos mensagens dos principais dignitários da Nação. Este ano não foi exceção. Depois do primeiro-ministro tivemos o Presidente da República. Se do primeiro nada havia a esperar, senão o endeusamento das políticas seguidas, a "recuperação" do país, as melhorias na vida dos portugueses (contrariando aquilo que a UE vai dizendo) - afinal estamos em período eleitoral -; já do segundo esperávamos um pouco mais. Afinal ele é (ou melhor, deveria ser) o Presidente de todos os portugueses. Mas também daí, não foi toca donde saísse coelho. Assumindo-se até ao final do mandato como o maior presidente de fação que existiu em democracia, Cavaco lá foi tecendo laudas ao governo, à sua estratégia, aos seus "bons" resultados. (O que vindo de quem vem não deixa de ser interesssante). Curiosamente, dentro da linha eleitoral do PM, que acha que se "acabaram as núvens negras", pelo menos até às eleições legislativas. Se Passos Coelho já se celebrizou por dar o dito por não dito, já Cavaco deveria ter um pouco mais de pudor. Dizem alguns que ele anda doente. Se é assim, deveria deixar o cargo para quem o pudesse desempenhar com maior probidade. Porque se a Passos já ninguém o leva a sério pelas muitas vezes que mentiu aos portugueses, já Cavaco sempre se quis assumir como uma espécie de consciência do regime. Mas agora que vem apelar a um consenso pré-eleitoral dos partidos do chamado arco da governabilidade, deveria lembrar-se do que fez enquanto primeiro-ministro, e do que tem feito, enquanto Presidente da República. Será que já ninguém se lembra de quem pagou aos armadores para destruírem os barcos de pesca? Será que já ninguém se lembra de quem incentivou e pagou para os agricultores arrancarem as vinhas? Pois foi ele mesmo, o então PM Cavaco Silva que se apelidava a si próprio como "o homem que nunca se enganava e que raramente tinha dúvidas". Aí começou a nascer o "monstro" para usar a feliz expressão do seu então ministro das Finanças, Miguel Cadilhe. E já agora, enquanto Presidente da República, veja-se a complacência com que trata este executivo - do seu partido -, e o afrontamento que teve com o governo anterior. Dois pesos duas medidas o que acentua que este PR é claramente um Presidente de fação. Mas o que ambos esqueceram duma maneira inadmissível foi a vida que têm os portugueses no seu dia a dia. O empobrecimento da Nação, a venda das suas "jóias da coroa" a esmo, a preço de saldo. (Basta ver a pressa com que o governo já em fim de mandato está a tentar privatizar a TAP, contrariando até alguns dos seus apoiantes, medida que logo contou com o apoio inequívoco do seu PR). Atitudes que não dignificam os cargos que ocupam nem as pessoas que os exercem. E porque evitar escândalos como o do BES? Não se ouviu uma palavra sobre isso. E quanto ao desemprego? E quando ao aumento da emigração? E quanto ao empobrecimento das famílias? E quanto à falta de futuro dos mais jovens? Estoicamente tudo isto foi ignorado porque são verdades incómodas, inconvenientes. O novo ano aí está. Será um ano agitado pelas lutas eleitorais que já começaram. Porque a caça ao voto é mais importante do que definir uma estratégia de futuro. Porque é mais importante os assentos do poder do que as dificuldades dos portugueses. Duas mensagens equívocas que mostram bem o que nos espera, mas sobretudo, mostram bem o nível rasteiro a que a política chegou. E não venham dizer que estas críticas são moda que põe em causa a própria democracia. Porque o que parece é que não pondo o dedo na ferida é que estamos a contribuir para o afundamento do regime democrático.

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