Os milhões do BCE e a crise europeia
Ontem foram anunciados muitos milhões para a Europa que o Banco Central Europeu (BCE) irá libertar sobre as economias comprando dívida pública dos países em mercado secundário. Embora ainda esteja por perceber se o aumento da massa monetária (M2 como tecnicamente dizem os economistas) ainda irá a tempo de evitar a deflação. Draghi percebeu que a Europa não está a crescer e que a deflação está aí à porta. Alguns países já a têm dentro de portas, e nós não andamos longe disso, mas de que ninguém fala. Ao tomar esta decisão - a "bazuca" - o nome por que foi conhecida a operação nos mercados, o BCE apenas está a admitir que a austeridade falhou, que tudo aquilo por que os países do sul passaram e sofreram foi em vão. Atrevo-me a dizer até, que se estas medidas tivessem sido tomadas em 2011, não teria havido austeridade, ou seguramente ela teria sido muito mais branda do que efetivamente tem sido. Muito do que aqui defendemos nestes últimos quatro anos, afinal tinha sentido. Tanto sacrifício para nada. No nosso caso, é fácil ver que depois de tanta austeridade, de cortes e mais cortes (exceto no Estado, as famosas "gorduras") o nosso crescimento praticamente não existe, o desemprego virou estrutural, as falências foram a norma, a classe média - pilar do regime - foi praticamente destroçada. Ao tomar esta medida Draghi mostra também a falência da política do nosso governo, mas não só, (e basta ver a reação dos políticos alemães com quem Passos Coelho se alinhou). Ao injetar somas avultadas nas economias europeias, não se pretende só fazer crescer a economia, mas também salvar o euro que está a passar por um período de forte valorização o que é mau para a Europa. Esta decisão é corajosa - apenas os EUA, o Japão e o Reino Unido - tinham tomado medida idêntica injetando dinheiro para dinamizar as suas economias e combater a crise. Mas a decisão mostra que o evoluir da União Europeia (UE) está num impasse perigoso, o que dilui a coragem do gesto para o desespero da ação. Esse dinheiro será injetado nas economias através do sistema financeiro, veremos se, ele chega à economia real ou se fica a alimentar os já chorudos lucros da banca. (O caso português é paradigmático disto que aqui afirmo). O tempo dirá se desta vez as coisas correrão ou não de igual maneira. Mas não deixa de ser surpreendente que esta medida seja anunciada a três dias das eleições gregas. Com a previsão do terramoto político na Grécia, esta medida pretende condicionar, de novo, as eleições gregas - já tal tinha acontecido com o FMI - mas também, tenta defender a zona euro, agora a braços com um dos seus problemas maiores que será o da possível saída do euro por parte da Grécia. Se isso vier a acontecer, estou convicto de que o mesmo se propagará aos países periféricos do sul como Portugal, e poderá ser o canto do cisne da moeda única, logo da própria UE. Mas disso falaremos para a semana, depois de vermos no que vão dar as eleições gregas. A aflição é muita dentro da UE. A preocupação do que aí virá será o motivo. O que só vem demonstrar que a UE não tem sabido gerir as situações em tempo útil deixando que elas resvalem para os extremismos. Não o soube fazer na guerra - veja-se o que aconteceu com o Kosovo -, não o soube fazer na diplomacia - veja-se o que acontece com as relações com os EUA -, não o soube fazer no apoio aos países mais deficitários - veja-se o fosso cada vez maior entre o norte e o sul -, agora não o sabe fazer na finança, ou melhor, está a tomar medidas demasiado tarde - o exemplo da Grécia aí está para o provar. Dentro de dias já perceberemos com mais clareza aquilo que nos espera. Até lá apenas nos resta mesmo esperar.
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