A teoria dos cofres cheios
Assistimos há dias a uma afirmação da ministra das Finanças de que Portugal tinha os "cofres cheios". É caso para perguntar, cheios de quê? (Só para terem uma ideia os cofres cheios custam-nos €40 milhões por ano só em juros negativos pagos ao BCE para ter lá o dinheiro parado). Porque os portugueses estão de bolsos vazios, a economia cresce a ritmo débil, a dívida não pára de crescer, afinal qual a razão de tão gloriosa afirmação. Porque um país são as pessoas, e estas vivem mal, a classe média quase desapareceu, a miséria é cada vez maior, a fome já campeia pelo país. E a austeridade aplicada pode ter servido para encher os cofres, mas porventura para mais nada serviu. Com um desemprego que até já o governo assume como estrutural - quantas vezes já o afirmei neste espaço? - afinal que razão teremos para estar felizes. Há quem compare esta atitude a uma em tudo idêntica que foi feita durante o Estado Novo, onde apesar dos "cofres cheios" a miséria, a ignorância, o analfabetismo, a falta de assistência média, a falta de escolaridade, eram as pedras de toque. Maria Luís Albuquerque não conheceu isto, mas muitos de nós - eu inclusivé - conhecemos o que era esse mundo de então. Agora parece que temos a mesma realidade replicada mais de 40 anos volvidos. Sei que a ministra estava a falar num evento partidário de jovens do seu partido, mas mesmo assim, deveria ter a noção de que estavam presentes jornalistas e o assunto iria emergir. Mais uma daquelas infelizes comunicações que o governo nos tem habituado? Apenas uma infelicidade da maneira como se exprimiu a ministra? Ou já será a politiquice barata pré-eleitoral onde vale tudo para encobrir o desastre que foi a austeridade imposta ao país - mesmo quando se quis ir para além da "troika" - reduzindo Portugal à miséria dum pequeno país do sul da Europa, periférico e pobre, como no passado? Sou do tempo em que quando se viajava para o estrangeiro tínhamos dificuldade em dizer que éramos portugueses! Parece que voltamos a esses tempos que já pensava nunca mais ver em Portugal. Mas como é costume dizer-se "a História acaba sempre por se repetir", e acrescento eu, mas nem sempre da mesma maneira.
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