Turma Formadores Certform 66

Wednesday, December 16, 2015

Confiança vs colapso do sistema financeiro

O sistema financeiro está à beira do caos. Independentemente de haverem razões para isso ou não, independentemente de haverem instituições mais credíveis, umas mais que outras, o certo é que se nada se fizer, o sistema financeiro entrará em colapso. Não só por ter havido um BPN e um BPP, não só por ter havido um BES, não só por se falar do Montepio e agora do Banif, - o dinheiro que o governo anterior lá enterrou, provavelmente, não terá retorno e, mais uma vez, os contribuintes terão que assumir -, e amanhã sabe-se lá de mais quem. Para além das instituições há um fator muito importante no mundo financeiro e que por vezes é ignorado que se chama 'confiança'. Mais do que tudo, o nosso sistema carece dessa confiança. E quando as notícias do Banif se tornaram mais extensivas à população - embora o caso já tenha cerca de três anos - foi ver a corrida às agências do banco com depositantes com o pensamento no que aconteceu aos outros que confiaram no BES. (Já para não falar na questão não menos preocupante do Novo Banco). Isto só vem confirmar que as pessoas não estão tranquilas face ao seu sistema financeiro. Um conhecido economista português, há umas semanas atrás, afirmava que dentro de dois anos deixarão de haver bancos portugueses. Acompanho-o neste raciocínio. Não tanto porque os portuguesas não sejam capazes de gerir os seus próprios bancos, mas porque se acostumaram a fazer tudo aquilo que lhes apetecia, sem terem que prestar contas a ninguém. E podem crer que quando se fala do "dono disto tudo" a propósito dum outro banqueiro, embora esse tenha ficado com o remoque, há mais "donos disto tudo" no nosso sistema financeiro. E porque será assim? Porque não compete ao governo ser o controlador bancário, (embora o possa fazer), face a um regulador que na maior parte do tempo parece andar distraído. E disso todos temos memória bem recente. Mas seria importante que a instituição europeia por excelência que é o Banco Central Europeu (BCE), seja mais do que aquilo que tem sido. Não basta os "stress tests" aos bancos, nem a compra da dívida aos países para controlar os juros da dívida pública. Já que as normas para o sistema financeiro emanam do BCE deviam ser eles a regular a atividade bancária dos diferentes países. Sei que muitos dirão que isso seria a perda da soberania. Mas meus amigos, essa perda de soberania é cada vez mais evidente, entrando rasteira e sibilina. Basta olhar para os governos que aprovam Orçamento de Estado (OE) com a benção de Bruxelas ou então estão em maus lençóis. É importante ver como por vezes, ainda a medo, tentam influenciar esta ou aquela eleição. Não que isso me preocupe em demasia. Sou um federalista assumido, como já por diversas vezes o escrevi, e acho isso natural e até desejável. Prefiro um sistema com influência da UE do que andarmos à deriva para depois cairmos nos braços duma qualquer "troika" com as consequências que se conhecem. Se estamos numa UE, devemos seguir os canones dessa união. Se não, de nada valeu aderirmos e o melhor seria de lá sairmos. Mas voltando ao tema, a confiança minada dos depositantes e clientes dos bancos é a pedra angular que, se nada for feito para inverter a tendência, levará ao colapso cada vez mais evidente do sistema. O banqueiro era uma pessoa altamente respeitável noutros tempos, hoje é olhado como um vendedor de banha da cobra, descredibilizado, com quem devemos ter cuidado ao lidar. E isso é mau. Já agora, uma informação. Entrará em funcionamento no início do próximo ano uma diretriz europeia, que obriga a que os bancos em dificuldade, antes de pedirem ajuda ao Estado, devem pedi-la juntos dos seus obrigacionistas e dos depositantes com depósitos superiores a 100.000 euros. É uma medida que protege a causa pública, mas certamente poderá ser questionável do ponto de vista da confiança no sistema. Confiança é a palavra-chave. Confiança versus colapso financeiro. É urgente que tal se crie para evitar males maiores.

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