Trítico pré-natalício
Agora que a época natalícia se aproxima, é corrente os votos de Boas Festas. Por trás deste ritual, (por vezes sincero, mas muitas vezes vazio de conteúdo), fica-me sempre esse travo amargo do sacrifício de animais - de novo eles - para gaúdio de muitos, abrilhantando a mesa opípara de alguns. E daí a refletir sobre esta época pré-natalícia foi um instante. Quando olhamos essas imagens magníficas tiradas do espaço sobre o nosso planeta azul, parece que ele encerra uma equilíbrio fascinante, onde tudo parece estar no seu sítio. Mas não é assim. Quando nos aproximamos, num zoom típico de máquina fotográfica, vemos que afinal algo de bem diferente existe. Os seres dito humanos que correm dum lado para o outro na sua ânsia de viver apressada com o intuito de ter mais e mais, (sempre esse sentido de posse, poder e avareza que tanto tem conduzido à sua própria autodestruição), num frenesim ímpar como se não houvesse amanhã. Daí que a minha crença nesta espécie - na qual me incluo - me deixe sempre algumas reservas. Mas mesmo assim, deixo aqui esse sentimento de solidariedade para com o meu semelhante, um dos primeiros princípios do trítico que aqui vos quero trazer e que muitos já conhecem porque dele venho falando vai para um par de anos. Depois temos esses gloriosos animais que povoam a nossa existência, que dão colorido à nossa vida e que tanto desprezamos e destruímos. Não é só pela subsistência que o fazemos, mas na transformação que dela fizemos numa indústria de agonia e morte, que poucos conhecem, e quando têm oportunidade - e já agora coragem - para o fazer, seguramente que nunca mais comerão um ser vivo. Não basta olhar só para o cão e o gato, há muitos outros seres a merecerem a nossa atenção e respeito. Dentro deste segundo pilar, quero ainda salientar um outro tipo de seres. Desde logo, as aves, esses seres magníficos que encerram no seu voo o maior desafio à ciência. Eles a quem considero os intercessores entre o céu e a terra, escrevem autênticos poemas, quando se erguem nas alturas. Mas, já agora que vos fiz olhar para os céus, convido-vos também a olhar para baixo, para os mares e para o que neles se passa. Todos já vimos imagens magníficas do seu interior. Lá bem no fundo, nas profundezas incomensuráveis, onde parece que a vida não é possível, pois ela aí está, em pequenos ou grandes seres que se adaptaram às condições mais inóspitas onde o homem não consegue chegar. Para todos estes seres, o meu amor incondicional. Porque eles são o verdadeiro milagre da adaptação ao longo dos tempos. Seres que já por cá andavam antes de nós chegarmos, e que por cá continuarão quando já tivermos partido. Seres resilientes que resistiram a todas as transformações que o planeta foi tendo ao longo dos tempos. Mas ainda nos falta o último pilar, o da natureza. A mãe natureza como é conhecida entre alguns povos, o verdadeiro pulmão de vida, que nos mantém a todos neste viver de equilíbrio de fio de navalha. Com o seu colorido conforme as estações do ano, a natureza pinta esta nossa existência e abriga muitos seres que não conseguiriam viver doutro modo. Aqui o meu respeito para com mais este milagre. Agora que acabou a Cimeira do Clima em Paris, com resultados não tão espetaculares quanto os que se pregam, mas mesmo assim positivos, será bom que pensemos que com a nossa atitude de desrespeito para com a natureza, estamos desequilibrando este nosso planeta. E se assim continuarmos, destruiremos, seguramente, estes equilíbrios frágeis que permitem a vida. O ser dito humano, - mais uma vez no centro, para o melhor e para o pior -, tem que mudar de atitude se não, será a vida na Terra que se extinguirá. Não temos a noção que esta é a nossa casa comum, que vivemos agarrados a um calhau que navega pelo cosmos, esse tal que quando nos afastamos no espaço sideral, parece tão belo e azul. O milagre da vida existe, mas também o podemos vir a destruir se não tivermos a noção dos nossos atos. Sempre o poder, a riqueza, a ganância, nos gestos que poderão ser o canto do cisne do planeta. Mas pensemos que o ser dito humano se vá corrigindo, vá percebendo que esta pode ser uma viagem sem retorno. As novas gerações já vão olhando com outros olhos para esta questão. Daí o não me cansar de lhes falar deste trítico, - como se se tratasse duma oração -, como atrás referi, a solidariedade para com o nosso semelhante, o amor pelos animais e o respeito pela natureza. (Desde logo, à minha querida afilhada Inês, ainda tão pequenina nos seus quatro anos de existência, mas acho que é bem cedo que se deve começar a falar destas coisas, a sensibilizar as mentes em tenra idade). Esta pode ser a atitude de alerta para que se altere o caminho. Mas seja como for, esperemos que essa imagem do planeta belo e azul a vaguear pelo cosmos seja a realidade por muitos mais milhões de anos para que o glorioso mistério da vida se perpetue.
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