Turma Formadores Certform 66

Friday, May 06, 2016

A crise sistémica que anda por aí

Todos vamos ouvindo - umas vezes mais claramente, outras mais em surdina - que o nosso sistema financeiro está em crise. Nada de mais verdadeiro. Depois do BPP e do BPN, (que foram os primeiros sinais de que algo estava mal terem colapsado), logo apareceu com estrondo o banco dos bancos - o BES - com o seu cortejo de surrealismo que ainda não terminou. O mesmo se diga do seu sucessor - o chamado banco bom batizado de Novo Banco - que parece que ninguém sabe bem o que fazer com ele. Depois aconteceu o recambolesco caso do BANIF, (que ainda não foi explicado na sua verdadeira amplitude), enquanto outros se perfilam na linha de resgate que a todos nós irá custar muito. Mas este novo alinhamento que é percetível e que é falado à boca pequena, vai para algum tempo, assume hoje uma visibilidade notória quando o ex-ministro das Finanças, João Salgueiro, admite que, para além do Novo Banco, também o Millenium e a CGD poderão vir a seguir o mesmo caminho, juntamente com um outro 'pequeno banco', para utilizar a expressão de João Salgueiro. Nada de novo, nada que já não fosse conhecido ou pressentido para quem faz desta atividade profissão. Não é tão difícil assim ler os sinais, embora para a maioria das pessoas, tal não seja tão claro assim. Como já por diversas vezes afirmei neste e noutros espaços, o sistema financeiro português está caduco, podre, porque se foi acomodando a um olhar para o lado dos poderes instituídos, - que levaram à impunidade durante demasiado tempo -, que lhe foram dando apoio, senão duma forma explícita, fizeram-no duma forma implícita. Sempre com o receio duma possível crise sistémica, lá se ia remendando aqui e ali, para evitar que os buracos não alargassem em demasia. Só que esses remendos foram executados em pano demasiado podre, e os buracos foram-se alargando, não sendo já possível, ignorar esta situação. E chegados aqui, estamos perante um problema muito sério. Se por um lado, a chamada 'espanholização' da banca tem sido fortemente contestada, - e bem -, o certo é que, alternativas não são visíveis no horizonte. O problema é tanto mais sério quando vemos que a banca nacional se afunda em tragédia a seguir a tragédia, pondo em causa um sistema financeiro que deveria ser português. Porque um país sem sistema financeiro é um país sem independência nacional, por mais que nos digam o contrário. Assim, neste emaranhado a que chegamos, só a nacionalização da banca me parece ser a saída mais plausível. (Cumpre aqui fazer uma declaração de interesses de minha parte. Não sou um defensor duma banca nacionalizada, e isso já deu muito maus resultados num passado não muito longínquo. Mas também não sou defensor duma espécie de balda institucional em que vale tudo, onde as pessoas que gerem a banca nem sempre são as melhores, onde as regras impostas são sempre torneadas sem que quem as determina pareça ter voz ativa no caso). Daí a criar-se os 'donos disto tudo' é um passo. Já o foi no passado, poderá sê-lo no futuro. Só que até agora, os 'donos dito tudo' eram portugueses, e no futuro serão estrangeiros. Face a esta sibilina questão, o controlo da banca pelo Estado parece ser inevitável, nem que mais à frente, se pense em vendê-los a privados, como acabou por assumir João Salgueiro na entrevista que hoje deu na Antena 1. Só que não podem ser vendidos a esmo, sem que se escrutine quem os pretende adquirir, caso contrário, e a prazo, estaremos no mesmo ponto de encruzilhada em que agora nos encontramos.

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