A reestruturação da dívida portuguesa
Muito se tem falado da reestruturação da dívida portuguesa. Uns que a exorcizam de imediato, outros que fazem dela a sua bandeira política. Mas afinal de que estamos a falar quando falamos de reestruturação da dívida? Tal acontece quando um país com insípido crescimento económico, com uma débil criação de riqueza nacional, se vê a braços com uma dívida gigantesca e com um serviço da dívida esmagador. Não significa, como por vezes se ouve por aí, o não pagar a quem nos emprestou, que seria o pior que nos poderia acontecer. Esta situação não é nova em Portugal. Já várias vezes trouxe à colação o que se passou em finais do século XIX, quando Portugal se viu confrontado com uma situação em tudo idêntica à atual. E desde muito jovem, ouvia os meus avós traçar laudas a Salazar 'por ter batido o pé aos estrangeiros que queriam mandar em Portugal'. Os meus avós nada sabiam de reestruturação de dívidas nacionais, nem conheciam os seus impactos no país. Mas eles, como muitos portugueses, sentiram isso como 'uma ofensa à Pátria', como então se dizia. O que de facto se passou, foi que essa dívida contraída junto do Banco de Inglaterra no século XIX - leiam 'Os Maias' de Eça de Queiroz - e, sobretudo, o serviço da dívida associado, estavam a esmagar o país, tal como acontece hoje. Salazar reestruturou-a, já no século XX, contra a vontade das forças económicas de então, e alargou o seu prazo. Esta dívida só veio a ser paga na totalidade em Janeiro de 2011!!!... Portugal pagou a dívida, mas aliviou a pressão dos credores, obtendo prazos mais largos e juros mais baixos, mais conducentes com a realidade do país. Isto é a reestruturação da dívida. O que é mais curioso é que, aqueles que se opõe são pessoas próximas da direita, onde ainda militam alguns simpatizantes do antigo ditador português; e, os que a defendem são pessoas da esquerda, uma esquerda que nem quer ouvir falar de Salazar, mas que neste capítulo se revê na sua estratégia. Política à parte, esta reestruturação é inevitável, caso contrário, a sua pressão, evitará um crescimento económico sustentado que se deseja, a riqueza nacional criada será cada vez mais insípida, (o que agravará ainda mais a dívida), vendo esta aumentar paulatinamente, porque não a conseguimos controlar, visto que tudo o que criamos vai para o serviço da dívida e, mesmo assim, fica aquém das necessidades. Daí que a reestruturação da dívida seja algo que, contra ventos e marés, vamos ter que enfrentar mais cedo ou mais tarde. O não o fazer será arrastar Portugal para o empobrecimento crónico donde terá muitas dificuldades em sair.
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