Turma Formadores Certform 66

Thursday, October 20, 2016

À memória do João Paulo

Ontem trouxe-vos uma memória já com alguns anos. Hoje trago-vos de novo uma memória ainda mais longínquo-a. Talvez com a idade sejam as memórias que vão restando quando os nossos objetivos de vida são mais comesinhos. Já não será a ambição do poder ou do ter, mas sim, a busca do equilíbrio no Universo prenúncio dum inverno da vida que já anda por aí. Mas voltemos ao tema que aqui me trás. Ontem à noite estive no velório dum rapaz que conheci quando andava na casa dos 12/13 anos. Chamava-se João Paulo e anteontem viria a falecer vítima dum brutal acidente de automóvel. Hoje com 38 anos pensei que já não o conhecia. Mas não. Ele ali estava sereno no seu esquife. Com feições mais maduras, mas com aquele rosto de menino que conheci. Era filho duma amiga e ex-colega do tempo em que estivemos ligados ao Grupo Vista Alegre. Nas férias grandes ele e a sua irmã Joana - hoje arquiteta - lá apareciam, e como ele gostava de ser útil, lá vinha servir uns cafezinhos aos nossos gabinetes. Essa imagem radiosa dum jovem a entrar no meu gabinete, de educação esmerada e sorriso sempre pronto, são a marca de água que tenho (e quero continuar a ter) do João Paulo. A vida do João Paulo nem sempre foi aquela que gostaria de ter. Por diversas razões que não interessam para aqui. Mas no momento em que tudo parecia ultrapassado e que, finalmente aos 38 anos, parecia que as nuvens que o acompanhavam se dissiparam definitivamente, trazendo ao João Paulo uma felicidade e uma expectativa que ele já não pensava talvez ser possível, é que a vida o abandona duma forma trágica. Coisas da vida, desígnios do Universo que nem sempre entendemos, mas com os quais temos que conviver. Mas o João Paulo, nesta hora de despedida da vida, ainda quis influenciar esse reencontro de antigos colegas de trabalho - como era o caso de sua mãe - pessoas que, embora comunicando-se, não estavam fisicamente juntas há muito tempo. Parece que o João Paulo ainda fez este esforço derradeiro para unir aqueles que ele conheceu num outro tempo, e a quem ele distribuiu a sua simpatia. Não publico nenhuma imagem do João Paulo, primeiro porque ontem não pedi autorização à família para isso, mas também, porque  para além disso, quero guardar a imagem do João Paulo menino que tantas vezes abrilhantou o meu dia de trabalho. Não sei se a família lerá ou não estas linhas. Mas estas foram escritas mais com o coração do que com qualquer outra coisa. Especialmente à sua mãe e irmã - era a família que conhecia -, mas também à restante família, quero aqui apresentar as minhas mais sinceras condolências. Estou certo que o João Paulo terá agora finalmente encontrado a paz e a felicidade que buscou ao longo da sua curta existência. Dentro de um par de horas será sepultado, fisicamente ausente mas perene entre os seus. Enquanto a sua memória perdurar ele não morrerá.  E estou certo que a sua memória continuará por muito tempo para muitos de nós. Que estejas em paz, João Paulo!

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