Turma Formadores Certform 66

Tuesday, November 08, 2016

A Europa dos interesses

Hoje o ministro português das Finanças, Mário Centeno, juntamente com o seu homólogo espanhol, estarão em mais uma das intermináveis reuniões em Bruxelas sobre as possíveis sanções que poderão vir a ser aplicadas a Portugal e Espanha por terem excedido o défice dos 3% no ano transato. Pierre Moscovici será um dos anfitriões que irão pressionar mais uma vez, os países periféricos com vista a baixarem o défice e, sobretudo, a seguir a paleta europeia de empobrecimento que tem levado a Europa para o abismo. Que se cumpram as normas, estou de acordo. Que se apliquem sanções aos infratores, também. Mas como se pode levar a sério estas imposições, quando se sabe agora que François Hollande negociou nas costas de todos o não cumprimento do défice de modo a que nada aconteça à França? Juncker talvez se for interpelado sobre isso, responderá como já o fez numa outra altura, 'porque a França é a França'!!! Estranha coisa esta duma Europa que parece só ter regras para os países com mais dificuldades e que, só por isso, mereciam mais atenção. Por vezes, até parece desenhar-se uma certa ingerência na política interna de alguns países e nos respetivos orçamentos. Isto é meio caminho andado para a descredibilização da União Europeia (UE). Um grupo de burocratas que não foram sequer eleitos, dum qualquer luxuoso gabinete de Bruxelas dita o rumo dum país e dum povo. Acho inconcebível tal atitude, o que só leva a um cada vez mais alargado os de grupos eurocéticos que se vão espalhando por todo o lado. Como já por diversas vezes afirmei, sou europeísta e até federalista, mas se se quer uma Europa federal nada melhor de que o afirmar publicamente sem rodeios e agir em conformidade. Mas nada disso acontece. Quando pensei numa UE federal era uma UE que se ia construindo com o contributo de todos e não uma federação europeia comandada por um único país, - a Alemanha -, que acha que a partir de agora todos deveremos ser alemães e pensar como os alemães. A atitude recente do ministro alemão das Finanças, o polémico Wolfgang Schäuble sobre Portugal, é bem o exemplo disso, como se Portugal fosse uma espécie de colónia alemã. Isto descredibiliza a própria UE e cria, mesmo internamente, focos de tensão. A que eu também não fico indiferente. Cada vez mais, e contrariando a minha própria vontade, me vejo como eurocético, porque tenho dificuldade em me rever numa UE comandada por um país que, porque tem uma situação mais confortável hoje, (porque nem sempre foi assim), acha que deve impor as regras aos outros. Não meus senhores, não será assim que irão afirmar a UE cada vez mais fragmentada que parece estar a entrar em colapso a qualquer momento. Que venha a Europa social e que se tenha a coragem de acabar com a Europa dos interesses que não conduzirá a nada de bom.

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