A maldição da Matilha de Rio Tinto
Estou em choque! Quando abri hoje o computador, bem cedo ainda, fui confrontado com uma notícia devastadora. O Repas tinha desaparecido de casa do seu adotante! Mas o mais incrível ainda foi saber que o desaparecimento se deu à um mês e só agora foi pedido auxílio pelo seu 'adotante'!!! Não deixa de ser estranho. Não conheço o adotante mas tenho muitas dúvidas sobre o sucedido. Porque se para muitos um cão é apenas e só um cão, para mim, é um membro da família. Um membro frágil a necessitar de cuidados, carinho e atenção. Conheço o Repas desde que nasceu, com quem brinquei muitas vezes enquanto bebé e a quem alimentei durante anos. (Ainda me recordo de ter ido a Rio Tinto dar de comer à matilha que ele integrava, num dia muito frio de janeiro, e o ver enroscado num sofá velho junto da sua irmã, a Sheila, com o pelo branco coberto de neve). Nessa manhã não contive as lágrimas. Apenas um dia nos muitos que lá chorei depois de assistir ao muito que tenho assistido nestas quase duas décadas que alimento estes cachorros. (O Repas era o pai do Repinhas, aquele cachorro que ainda alimento e que é o último desta matilha, de quem dou notícias amiúde, e de quem publiquei foto na passada terça feira). Mas esta matilha - mais conhecida pela Matilha de Rio Tinto assim batizada pelo meu amigo Bruno Alves Ferreira que conheci a quando precisamente do processo do Repas e da Sheila - tem sido alvo dos maiores infortúnios. Vi muitas ninhadas nascerem - cheguei a alimentar cerca de trinta cachorros - e vi-os desaparecer das mais variadas maneiras. Alguns foram levados por pessoas que se diziam representar associações locais - assim se apresentavam juntos dos trabalhadores do zona - mas sem nunca se identificarem. Outros, segundo me disseram, teriam sido levados por um grupo de orientais, provavelmente para alimento. (Parece haver uma comunidade chinesa próxima do local, embora não tenha conhecimento direto disso). Outros, ainda bebés que mal se podiam defender, foram esmagados por carros de pessoas que trabalhavam no local e que faziam disso o seu macabro 'desporto'. Atualmente, e como venho denunciando à cerca de dois anos, existe um parasita que por lá anda que nos rouba a comida que lá deixamos. (Comida que compramos com o nosso dinheiro, comida que outros nos dão, para já não falar da gasolina que gastamos. No meu caso faço vinte quilómetros para lá ir). Tudo tem acontecido àqueles pobres animais. O Repas agora desaparecido, talvez vítima duma morte trágica quanto horrível, irmão da Sheila, a que atrás fiz referência, também desaparecida, provavelmente morta porque da última vez que se cruzou comigo pareceu-me doente e fiquei com a sensação que se quis despedir de mim. O facto é que, desde esse dia nunca mais a vi. A irmã deles, a Nina, que aqui fiz apelo à algum tempo atrás, que saiu de casa da sua adotante, sendo colhida por um comboio que a deixou paraplégica, embora a sua adotante a tenha tratado e tenha conseguido um carro que a auxilia na sua locomoção. O Repas e a Sheila eram os pais do Repinhas que, como disse atrás, é o último desta matilha e que muito também tem sofrido. Ainda aparece para ser alimentado no local de sempre, embora por vezes nada encontre porque o ladrão por lá passa antes e lhe leva a comida. Parece que esta malapata se abateu sofre este infelizes. Nada parece dar certo, mas por vezes, e correndo os riscos inerentes, penso que é preferível deixá-los em liberdade e tratar o melhor possível deles, em vez de patrocinar adoções que por vezes - vezes demais, diga-se - se revelam problemáticas para não dizer irresponsáveis. Por isso, raramente me vêem a fazer apelos de adoção, a menos que me peçam para isso. Prefiro um cão sem dono, a quem tento prestar assistência, e vê-lo feliz, do que ter um cão adotado de modo ligeiro, não passando disso mesmo, um cão. Desculpem-me a extensão do texto, mas estou irritado com tudo isto e preciso de desabafar. Tenho tido conhecimento de demasiadas situações destas, - algumas que nunca trouxe a este espaço mas que passaram por mim -, para me poder calar. Basta desta hipocrisia. É muito bonito dizer-se que se é amigo de animais, que se quer adotar e outras baboseiras em frente dum ecrã de computador. Mas o mais importante é ser-se responsável. E isso é o que mais falta neste mundo pérfido em que vivemos. A maldição da Matilha de Rio Tinto está aí bem à vista. Tudo o resto é espuma dos dias. Daqui a umas horas, um dia talvez, ninguém se lembrará do Repas e da sorte que teve, ou não. Mas ele estará sempre no meu pensamento. Porque amigos destes são para a vida. Não se esquecem. Ele que sempre me deu muito amor e carinho a que eu tentei corresponder. Não sei o que aconteceu ao Repas. Mas estou devastado, de coração muito apertado. Não fui capaz de esperar um mês para fazer este desabafo. É isto que faz toda a diferença.
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