Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Foi com surpresa - ou talvez não - que há minutos ouvi o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, defender a reestruturação da dívida portuguesa no Forum Empresarial do Algarve. É de facto muito curioso, porque num passado recente parece que essa simples expressão tinha laivos demoníacos muito ao gosto da esquerda mais radical. (Embora, em abono da verdade, se diga que há já alguns anos tenha vindo a assumir posições em favor do tema, embora duma forma tímida, mas nunca o fazendo com a frontalidade de hoje). E António Saraiva não é um radical, muito menos um esquerdista, embora tenha representado as confederações sindicais em Bruxelas! Mas isso eram outros tempo junto com alguns laivos de juventude. Agora não, nem pensar alinhar com essa gente que pensa na reestruturação da dívida. Esse foi o discurso que Saraiva manteve ao longo dos anos da governação anterior, quando toda a gente - pelo menos os mais especializados nestes assuntos - sabem que se tal não acontecer Portugal não sairá da espiral em que entrou nos últimos anos. E não só Portugal, como também as economias periféricas em geral, casos da Espanha, Grécia, Itália e até da Bélgica. Convenhamos que são muitos países a sofrerem duma certa falta de liderança europeia, para não falar ainda nos ultraliberais que ainda enxemeiam os corredores de Bruxelas. Portugal já passou por isso nos anos 30 do século passado até que a reestruturação da dívida foi forçada por Salazar. (Disso já aqui fiz eco por variadas vezes e não vou retomar o tema). A dívida e, sobretudo, o serviço da dívida são de tal monta que arrastam as economias dos países periféricos numa espiral de empobrecimento donde será quase impossível sair. E isto não é uma questão de esquerda ou direita, mas uma questão nacional que deveria ser encarada pelos partidos em geral. (Em vez disso, andam a falar de sms's e quejandos que a ninguém interessa, e nisso vão gastando o tempo e a paciência de quem ainda tem tempo para escutar esta garotada). Tecnicamente a reestruturação da dívida é um imperativo nacional porque doutro modo, e por mais esforço que se faça, - mesmo fazendo amortizações como se têm feito -, ela não para de crescer. Questão simples que qualquer estudante de Economia sabe, apenas alguns políticos da nossa praça parecem não querer entender. Até porque o quando pior melhor é o lema dessa gente que de português tem apenas o registo de nascimento. Como disse Camões 'mudam-se os tempos, mudam-se as vontades' e aqui foi mesmo isso que aconteceu. Mas, mais vale tarde do que nunca. Afinal, os próprios empresários - mesmo aqueles que andavam a apanhar migalhas da mesa de Passos e Portas - já não podem esconder o seu desconforto. E com o crescimento fraco da nossa economia, - tal qual o que acontece com a própria União Europeia (UE) -, se assim não se fizer, haverá muitas dificuldades de verem reequilibrar as contas de molde a criar condições para um maior crescimento e musculação da economia. Coisas básicas e de bom senso, que só a falta dele junto das elites políticas, tem impedido de ser tema principal da agenda.
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