O estilhaçar da 5ª República
Assistimos ontem ao estilhaçar da 5ª República francesa. Esta que tinha vivido sempre entre o centro-direita ou o centro-esquerda, viu os partidos destes arcos da governação serem rechaçados pelos franceses. Emmanuel Macron, ex-ministro da economia de Holland, um homem que se diz independente e liberal, nem de esquerda, nem de direita e Marine Le Pen, a truculenta candidata da extrema direita francesa que se diz representar o povo. Estes dois foram os protagonista de ontem e sê-lo-ão na segunda volta. Um dos dois chegará ao Eliseu. Se nunca se tinha visto a extrema direita passar a uma segunda volta das eleições em França, pois aí está ela, a mostrar que o desencanto dos franceses com os seus partidos tradicionais é por demais evidente. Macron quer agradar a todos e por isso recuperou o slogan de De Gaule que afirmava não ser nem de direita nem de esquerda. Mas De Gaulle era um homem da resistência, tinha saído como um dos vencedores da II Guerra Mundial, numa euforia nacionalista. Daí que este discurso possa ser perigoso caso Macron venha a ganhar, quando tiver que negociar na Assembleia Nacional os apoios necessários para governar. Mas estas eleições são também um sério aviso à União Europeia (UE). Uma UE fechada sobre si mesma, cada vez mais distante dos cidadãos, aqui terá o seu teste de fogo. A França é um grande país e uma grande economia. Se com Macron a Europa pode sentir-se mais aliviada, visto este ser um europeísta, já com Marine Le Pen as coisas são bem diferentes. Defensora da saída da França da UE e do euro, ela será a dor de cabeça seguinte para a UE, caso vença, e poderá significar ser a coveira desta. Porque depois do Brexit, se a França abandonasse a UE, o fim da Europa como a conhecemos acabaria também. Por isso a Europa tem que aproveitar a oportunidade para se renovar e aproximar dos cidadãos. Caso contrário, e mesmo que Marine não ganhe à 2ª volta, a extrema direita ganhará daqui a quatro anos. O estilhaçar da 5ª República a que ontem assistimos pode ser o quebrar da UE no curto prazo se não forem tiradas as devidas ilações do que se está a passar em França. É necessário que a Europa percebe o complexo puzzle que se está a viver neste continente e no mundo. Até agora não o tem percebido. Nós temos sentido na pele isso mesmo. Porque temos um governo não alinhado com os demais. E se Marine ganhar agora, ou daqui a quatro anos, como será? Se a economia portuguesa não tem peso na UE pela sua dimensão, a francesa já não é bem assim. E se a UE, ela também vier a colapsar, o que será deste continente, que ao longo da História sempre foi um campo de batalha, por interesses e poderio? Muitas perguntas sem resposta, ou com respostas inconveniente e que preferimos ignorar, mas que aí estão para nos fazer lembrar a vereda estreita em que caminhamos.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home