Em torno dos preconceitos
Sempre me sinto incomodado quando vejo o destilar de ódio que circula no cyberespaço relativamente a questões como a raça, o género, opção sexual, religiosa ou política. Sempre achei que essas atitudes têm no seu âmago uma certa deformação educacional, embora por vezes apareça embrulhada em papel brilhante e laço colorido, que até pode seduzir os mais incautos. Nunca pensei assim, porque na educação que tive nunca ouve espaço para olhar a diferença com suspeição. Se, por vezes, se fala disto e daquilo só porque é diferente de nós, talvez fosse bom que, mesmo por momentos, nos coloca-se-mos no lugar do outro, e talvez logo mudássemos de opinião. Penso que nem é uma questão de cultura ou de literacia porque, infelizmente, se vê pretensas pessoas 'bem formadas' e 'educadas' a atuarem pelo mesmo diapasão. Será que pensam assim, ou têm medo de ficar isolados perante os outros? Se calhar nunca o saberemos. Mas confesso que me incomoda a maneira como um ser trata outro, - seu semelhante -, baseado em critérios que apenas existem porque a sociedade os estabeleceu. Se achamos o outro mau, inculto, marginal, terrorista até, só porque pertence a uma outra latitude, talvez nos sentíssemos incomodados se parássemos um pouco e olhássemos para os que nos estão próximos, onde também existem pessoas de igual jaez que nós amenizamos apenas e só porque são da nossa raça. Tive a sorte de, desde bastante jovem, viajar pelo mundo. Por lazer, mas também por trabalho, e até como estudante. E vi muita coisa. Vi como, em nome da tal diferença, portugueses como eu, serem achincalhados em países para onde forem buscar melhores condições de vida. Vi o que é ser ocidental em países onde a cor da pele, a língua, a religião, a formatação político-ideológica é bem diferente da nossa, e a maneira como era olhado. Percebi rapidamente que é assim que, na minha Pátria, um natural dessas paragens se sentirá quando é olhado pelos outros de maneira enviesada, sem razão para isso, do apenas que a mera convenção social determina. Mas também vi, - nos da minha raça como noutras raças -, eram tratados quando eles vinham aureolados dum poder que, muitas das vezes, era apenas fictício. (Mas aí estavam, de novo, as convenções sociais a dizerem-nos o contrário). Talvez porque isto tudo, - pelo confronto de culturas porque sempre me senti atraído -, acho um tremendo disparate algumas baboseiras que vejo por aí, mesmo vindas, como atrás referi, muitas das vezes, de pessoas ditas 'bem pensantes'. Por vezes, temos que desmontar aquelas convenções que nos são ensinadas desde o berço, de que somos um povo diferente, - para melhor está claro -, do que os outros, que fomos colonialistas bons face aos outros que eram péssimos, que sem nós não haveria mundo conhecido, que, até no futebol, se não fossemos nós, talvez esse jogo nem existisse. E logo se fala, do exemplo colonial, dos descobrimentos, ou dum tal Cristiano que a única coisa que sabe fazer bem é dar pontapés numa bola. Pobre povo que assim pensa. Que reduz a sua ideologia e os seus ídolos, ao banal. E ficamos com o ego alimentado por mais um tempo. Consideramos que o mundo gira à nossa volta, - mas que digo eu, não o mundo, mas o universo -, não querendo ver a nossa posição marginal na Europa e residual do mundo que pretendemos impressionar. É preciso desmistificar essas posições. Porque quando tratamos com sobranceria alguém, que aparentemente é diferente de nós, talvez estejamos a ostracizar quem é, de facto, mais do que nós. Ninguém trás rótulos de capacidade e muito menos de estupidez. Penso que o que falta é darmos aquele passo na direção do outro, conhecê-lo melhor e aos seus desígnios, e não ficar naquela posição imbecil de viver de rótulos que não passam disso mesmo. O desconhecimento do outro, gera o medo e a desconfiança, que, na maioria das vezes, se esvaece à medida que vamos conhecendo melhor o nosso interlocutor. Esta atitude fechada e preconceituosa é, e será sempre, a génese das diferenças, dos ódios, das guerras sem fim. (A História recente da Humanidade é disso o melhor dos exemplos). Sei que é mais fácil empurrar um homem para o chão do que lhe dar a mão para o ajudar a erguer. O conflito civilizacional está aí. Sempre esteve embora não o quiséssemos ver. Mas isso não pode impedir a nossa abertura de espírito para que em vez de muros, lancemos pontes, de conhecimento, de diálogo, de paz, em suma, de amor.
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