Memórias natalícias - II
Depois de ontem ter invocado o famoso primeiro presépio da minha vida, é tempo de vos apresentar um Pai Natal já velho de anos como as suas proverbiais barbas. Este Pai Natal feito de chapa - material com que nessa época se fazia quase tudo até os brinquedos - tem tantos anos quanto eu, senão mesmo mais. Sempre me lembro dele na minha casa. Curiosamente, a minha geração era incentivada no culto do Menino Jesus, e o Pai Natal só mais tarde viria a fazer a sua aparição (embora nessa altura já se fosse falando dele pelo saco com os brinquedos para as crianças, só que então o Menino Jesus é quem dava os presentes aos meninos bem comportados e o Pai Natal era uma espécie de distribuidor). Mas esse Pai Natal estava sempre debaixo da nossa árvore de Natal, junto à árvore em cima dum belo vaso onde ela era colocada com imagens a condizer. E esse Pai Natal lá foi ficando atravessando os tempos e resistindo às modernices e inovações. Ele sempre aparece junto do meu local de trabalho nesta época natalícia. E como ele está tão bem conservado! Aquela vela amarela que vêm junto dele, não pertence ao Pai Natal. Ela foi comprada com o presépio de que ontem vos falei e, mais tarde, ela foi atada ao Pai Natal para ficar sempre junto dele, - porque de ano para ano andava-se sempre à procura dela -, e assim tem permanecido ao longo de décadas. A vela nunca foi utilizada, mas sempre acompanhou o Pai Natal, bem juntinho dele espetada na matéria que segurava a árvore, nessa época seria areia ou saibro. E assim foi atravessando os tempos e arrastando consigo as minhas memórias da minha tão feliz meninice. Agora que o tenho aqui bem perto de mim, ele representa uma espécie de caixa de Pandora que se abre e dela sai sabe-se lá bem o quê. Mas desta estão a sair muitas e gratas memórias de antanho. Por momentos, é como se voltasse a ser criança e recuasse no tempo até essa minha infância junto dos meus maiores. Mas isso é apenas mais uma fantasia - para além das outras que o Natal proporciona - porque a estrada da vida só tem um sentido e quem nela vai nunca regressa. Mas fica a intenção sempre grata a iluminar o que resta da minha caminhada da vida.
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