Memórias natalícias - I
O mês de Novembro está a chegar ao fim, perfilando-se já no horizonte próximo, o mês de Dezembro que tem no Natal o seu simbolismo maior. O cheiro do Natal já se começa a fazer sentir e a minha casa não é exceção. E com esta festa maior do calendário litúrgico cristão vem sempre à memória outros Natais num outro tempo e espaço. Sobretudo, o daquele tempo em que o ser menino era sinónimo duma inocência e candura bem longe dos tempo de hoje. Nessa altura, - ainda muito menino -, a celebração do Natal tinha a sua centralidade na árvore de Natal. Tradição bem afastada da nossa cultura, onde o presépio era o símbolo maior. Mas no meu tempo, o presépio tinha perdido algum espaço para a árvore de Natal que nessa época era comprada à porta de casa por pessoas que passavam a vendê-los. O presépio era assim, algo mais distante. Confesso até que tinha alguma dificuldade em entendê-lo e às suas figuras. Mas, talvez por isso e fruto da curiosidade, sempre gostava de ter um. Assim, um belo dia, a minha avó materna Margarida foi comigo às habituais compras e passando numa loja onde estava um lindo presépio lá me fez a vontade e acabou por comprá-lo. Para mim foi um contentamento como seria normal numa época em que só nesta quadra se compravam brinquedos para as crianças. Embora este presépio não fosse um brinquedo, para mim, assumiu uma grandiosidade enorme. Ainda me lembro de chegar a casa com ele, ir a correr mostrá-lo à minha mãe e logo de seguida ir colocá-lo bem juntinho da tradicional árvore de Natal. Durante muitos anos, esse sempre foi o seu lugar. Mais tarde, e fruto de outras mudanças, esse presépio sempre me acompanhou, agora já não junto da árvore natalícia. Hoje e sempre fica no meu escritório como uma memória vívida dum outro tempo em que as crianças viam no Natal essa aura de mistério e de encanto que já há muito se foi, - nestes tempos bem diferentes para melhor, dirão alguns -, mas onde essa visão bela do Natal se perdeu. Durante os muitos anos que este presépio está comigo, apenas os raios de luz da estrela no cimo se partiram. Uma vez, ainda muito criança, fui brincar com ele. Deixei-o cair e um desses raios quebrou. Fiquei triste, mas depois acabei por partir deliberadamente os outros para que ficasse igual. Ao fim e ao cabo, aquela mania das simetrias, (que ainda hoje se mantém), que talvez já indiciasse o gosto pelas matemáticas que seriam a base da minha formação futura. Mas, mesmo assim, o encanto desse presépio foi resistindo ao longo das décadas. À quase sessenta anos que está comigo e assim continuará ao longo do que resta da minha vida. E que encanto e fantasia ele me transmite, fazendo-me voltar a esse tempo de menino, mas também as recordações que me trás dessas pessoas que povoaram a minha existência e que, através deste objeto, - mas não só -, deixaram a sua impressão digital na minha vida. O que um simples presépio pode trazer de boas memórias de tantos Natais que já passaram por mim.
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