Uma reflexão em torno da condição da mulher
No passado sábado e domingo, fechei as minhas publicações com textos sobre a mulher e a sua condição. O primeiro extrato era de Maria de Zayas y Sottomayor (1590-1661) e, o segundo, da autoria de Soror Violante do Céu (1601-1693). (Para além dum outro publicado na quinta feira passada da autoria de Deana Barroquiero, citando um texto de D. Francisco Manuel de Melo). Estas mulheres têm em comum o serem pensadoras e ambas do século XVI, (exceto esta última) -, numa altura em que ser pensadora, escritora ou algo afim era uma heresia -, pelo simples facto de serem mulheres. Muito do que estas personagens nos deixaram, - e aqui apenas trouxe dois pequenos excertos -, tinha a ver com a condição da mulher. Nos idos de 1600, a mulher era uma espécie de objeto de decoração e/ou de prazer sexual. Nada mais lhe era permitido para além do governo da casa ou do cuidar da educação dos filhos. Ao longo dos séculos essa condição não mudou tanto quanto julgámos. (Basta ver a condição da mulher nos nossos dias, descriminada pelo salário, pelo sexo, pelas oportunidades. Ainda hoje, em algumas organizações, a mulher por mais capaz que seja nunca atingirá os lugares de decisão como acontece com os homens. E algumas destas organizações de que falo, conheço bem. Isto já para não falar doutras latitudes onde a mulher é como se não existisse). E muita vez a pseuda liberdade mascarada com uma certa dose de liberalismo, - ou libertinagem -, apenas vinca ainda mais a condição da mulher, e aqui até duma forma mais gravosa, porque aparece mascarada duma liberdade que de facto não existe. Os tempos mudaram, mas não tanto assim, e ainda existe muito caminho a percorrer. Temos é que estar atentos ao sinais e não nos deixarmos ofuscar pelos holofotes que apenas nos cegam e não deixam ver com clareza. Mas tudo isto vem a propósito dos extratos que publiquei e que esperava que dessem mais confronto de ideias. Para além dumas pessoas que leram, - poucas, diga-se em abono da verdade -, não houve nenhum comentário de parte de nenhuma mulher. Achei curioso que, numa altura que tanto se reivindica liberdades para tudo e para nada, ninguém tenha vindo a terreiro abrir um debate, que a sê-lo, seria muito interessante. O que só vem provar que a condição feminina aceita estas pseudo liberdades (ou liberalidades) como um fim em si, não querendo ir para além do imediato e previsível, sendo assim - ou continuando a ser - objeto de descriminação. Basta ver a forma como os jovens aceitam a violência no namoro, em especial as mulheres; já para não dizer da forma aviltante como, ainda hoje, existem casos dramáticos de violência doméstica que são cada vez mais. Muito caminho ainda a percorrer e, sobretudo, uma maior atenção sobre temas fraturantes da sociedade que parecem não incomodar ninguém. Como dizia Joseph Conrad (1857-1924): "Ser mulher é algo difícil, já que consiste basicamente em lidar com homens." (Aqui está uma frase que diz tudo e reforça o que atrás expûs). Claro que há exceções, mas são isso mesmo, exceções, as tais que só vêm confirmar a regra. Repito, achei curioso a ausência de debate, mas se calhar, serei eu que estarei ofuscado com o brilho das luzes.
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