Da Itália para a Europa
Durante muito tempo a União Europeia (UE) ignorou - para não dizer hostilizou - a Itália durante a crise dos refugiados. Parece que era assunto interno italiano e não europeu. (Até o ex-presidente francês Sarkozy, - ele que é filho de emigrantes -, dizia que ia fechar as fronteiras!!!) Mas em breve esta leva de emigração começou a alastrar por toda a Europa e, só aí, é que a UE parece ter acordado verdadeiramente para o problema. Nesses anos de confusão e apreensão, foram surgindo partidos cada vez mais radicalizados, hostis aos emigrantes, mas também com ideias anti-europeias, que foram tendo cada vez mais apoio junto das populações com a bitola populista vem vincada. (É preciso dizer qque estas forças políticas não praticam nem aceitam os valores democráticos, que até rejeitam). Hoje a Europa está cada vez mais acossada por partidos - alguns no governo de alguns países - de caráter fascisante, xenófobo e racista. A Itália, até pelas razões que expus atrás, não foi exceção. Curiosamente, ou talvez não, desde o fim da II Guerra Mundial e da queda do fascismo e do nazismo, nunca se libertou totalmente destas forças, que foram sobrevivendo duma forma subreptícia aparecendo cada vez com mais visibilidade à medida que o tempo avançava. Na Itália há uma grande tradição fascizante com bastante apoio, e basta olhar para o partido da Liga do Norte, de índole fascista, para percebermos o imbróglio em que a Itália está metida. Mas não é só a pátria de Garibaldi que se vê nesta encruzilhada, mas a Europa, que também não foge a tal desiderato. Ontem, um jornal italiano, - se bem me recordo o Corriere della Sera -, dizia que a Itália estava transformada num bordel depois do ato eleitoral. E tem razão. Porque ou o Partido Democrático usa de mais pragmatismo e faz uma aliança com o Movimento 5 Stelle ou deixa aberta a porta a uma coligação da Liga com o partido de Berlusconi, caindo num aglomerado de partidos xenófobos e anti-europeístas. Isto que parece ser longínquo e nada nos dizer, tem mais a ver com o nosso futuro do que parece. A Itália é um dos grandes países do sul e uma força importante no equilíbrio europeu com os países do norte, daí a relevância das últimas eleições. A Europa já desequilibrada pode vir a sofrer ainda mais desequilíbrios fruto do caminho que a Itália tomar. Os populismos estão em crescendo um pouco por todo o lado - os EUA são disso o maior exemplo - mas estes movimentos na Europa têm um impacto bem diferente. A UE, para o bem e para o mal, criou um espaço de convívio e de paz, numa Europa que ao longo dos tempos sempre foi um enorme campo de batalha. Daí a importância de a manter unida e estável o mais possível. O caminho que a Itália seguir será um prenúncio do que por aí virá para todos nós.
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