O país dos doutores
De novo volto ao tema da educação e da cultura, tão arredia nos nossos dias. Muito do que aqui trago, pode parecer recorrente, mas falo disto vai para mais de trinta anos, ainda eu era um jovem estudante universitário, numa altura em que os estudantes pensavam o mundo e a sociedade e não só para os exames como acontece hoje. Também quero aqui fazer a minha declaração de interesses. Todos sabem que não sou adepto daquele desporto a que chamam futebol. Não frequento estádios, nem ando a fazer tristes figuras pelas ruas, como vejo alguns chefes de família fazer e que, se tivessem acesso às fotos ou filmes em que aparecem, com certeza que se sentiriam muito envergonhados. Tudo isto a propósito duma situação que nos entra pela casa adentro a todo o momento, seja qual for o canal, especialmente os informativos. Parece que só a notícia dum grande clube de futebol que está a passar por um dos seus piores momentos de sempre parece interessar aos jornalistas. Enfim, coisas de 'sharing' e de vendas que não quero agora discutir. Mas a figura central de toda esta polémica é uma pessoa de formação dita superior, mas que não tem qualquer nível, nem sequer na linguagem que utiliza, bem mais própria dum qualquer indivíduo desprovido de qualquer tipo de escolaridade. Como se não fosse visível a falta da educação a que chamo de 'escola primordial', ainda se torna mais evidente quando aparece protagonizado por uma pessoa que deveria ter outra elevação e cultura. Escuso-me aqui de citar as várias frases, - no mínimo infelizes -, que tem patrocinado nestes últimos anos, porque são por demais conhecidas de todos, mesmo daqueles que com o futebol nada querem ter a ver. E aqui toco de novo na questão que ao longo de mais de três décadas venho colocando. Que educação é esta que se está a dar nas nossas escolas? Que cultura é essa que se está a inculcar nos estudantes de nível superior? Todos sabemos que cada vez mais se estuda para fazer exames e não para saber. (E depois ainda se admiram do elevado desemprego nos jovens com formação superior). A Universidade deve ser uma instituição que deve transmitir, - e exigir dos seus alunos -, um comportamento e uma postura que vão para além do conhecimento académico. Aquilo a que se chamam valores, que começam na família, mas que a escola não pode enjeitar. A 'Universitas' deveria ser uma instituição de saberes, como já foi, e não um colecionar de cadeiras, por vezes vazias de conteúdo, inconsequentes e erráticas. Quando um homem que tem formação superior é capaz de fazer as afirmações que faz, quando um homem não percebe que para além da sua pessoa, representa uma instituição, cumpre perguntar que educação ou cultura adquiriu. E se a responsabilidade é do próprio, a instituição onde ele andou deveria também perguntar, que contributo está a dar a esses seus alunos que vai colocando no mercado. O mundo do futebol é pobre e redutor, como todos sabemos, mas que haja pessoas que não sabem o lugar que ocupam é algo mais grave. E se ainda por cima têm uma formação dita superior, então estamos entendidos. Muito vai mal no nosso ensino, onde o facilitismo é norma. Depois ainda há quem fique admirado com coisas destas. A democratização do ensino é uma coisa importante, mas tem o seu efeito perverso, que é o de banalizar aquilo que são os saberes, reduzi-los ao menor denominador comum e o resultado é este. Muito se fala de cultura e ensino, mas pouco ou nada se faz para melhorar as coisas duma forma efetiva. O professor é cada vez mais desrespeitado. Os alunos chegam à suas mãos sem a tal 'escola primordial', isto é, aquela que tiveram em casa ainda antes de entrarem na escola. E desta amálgama saem cada vez mais pessoas com perfis no mínimo controversos. Somos cada vez mais um país de doutores ignorantes, como costumo afirmar. Uma amálgama de diplomas que quando espremidos não dão em nada. Há um par de anos atrás escrevi que a sociedade americana é bastante banal, de parcos conhecimentos, e duma grosseria ímpar. Pude constatar isso dia após dia quando trabalhei e estudei com americanos. Estes também são fruto duma certa democratização académica, mas aqueles que levam as coisas mais a fundo duma forma mais séria, são aqueles que brilham na cultura e na ciência. Esse fenómeno está a verificar-se entre nós vai para um par de anos, sem que ninguém pareça importar-se com isso, e nada fazer para inverter a tendência. Depois ainda ficam muito admirados quando aparecem pessoas como esta de que vos dei nota anteriormente. Já agora, e a título de conclusão, quero aqui afirmar que nada tenho contra ou a favor do clube em causa, nem da pessoa que o lidera. Como já atrás afirmei, este meio é-me completamente estranho, e não tenho qualquer vontade de nele entrar. Com certeza que haverá pessoas boas e más no futebol como em tudo na vida. Mas é importante que tenham a certeza de quem anda à chuva mais cedou ou mais tarde acaba por se molhar.
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