Romagem às memórias
Decidi hoje fazer uma viagem às minhas memórias mais profundas. Aquelas que temos em criança e que perduram para toda a vida por uma razão ou outra. Como sabem, hoje celebra-se o dia de Nossa Senhora da Hora. Longe do esplendor doutros tempos, ainda assim, existem alguns traços - muito poucos - dum certo tempo de antanho. Fui lá, como sempre que posso vou, neste dia. Visitei a capela (a antiga igreja que só abre nesta altura) e por lá fiquei algum tempo. Foi nela que os meus pais casaram e foi nela que eu fui batizado. Enquanto ali estava confrontei-me com as minhas memórias. Aquelas doutros tempos, onde os meus maiores ainda por cá andavam. Lembrei-me de ali estar muitas vezes, naquela mesma capela com eles, para celebrar efemérides várias. Umas alegres, outras não. Lembrei-me do recinto por trás da igreja, estar ocupado por dois coretos com bandas que tocavam em despique para no fim se eleger a melhor. Lembrei-me do rebentar dos foguetes que tanto me assustavam. Lembrei-me da procissão - que terá lugar no próximo domingo - e como me empurravam para a frente para eu ver melhor, e o medo dos cavalos que passavam bem juntinhos a mim. Lembrei-me das farturas e do doce de Teixeira que tanto apreciava, (e ainda aprecio), do algodão doce, enfim, de tudo aquilo de que é feita uma festa popular. Lembrei-me das barracas de brinquedos onde sempre me compravam um boneco de barro para colocar na cascata dali a mais umas semanas para celebrar os santos populares. Lembrei-me de tantas coisas que me senti esmagado mas agradecido. Porque sobretudo me lembrei dos meus maiores - pais e avós - que me acompanhavam até lá, e foi como se ali estivessem ao meu lado. Já passaram muitos e longos anos sobre tudo isto, mas o baú das memórias abriu-se de novo. E que memórias boas de lá saíram. Como me sinto feliz neste momento. Como é possível ficarmos felizes com tão pouca coisa de valor nenhum. Como é possível? Mas, definitivamente, estou muito feliz. Porque hoje revivi os anos melhores da minha vida, feitos de despreocupação e inocência. Aqueles anos que queremos recordar porque simplesmente fomos crianças felizes. E eu fui-o. E só tenho a agradecer àquelas memórias de gente simples que tiveram a grandeza de fazer uma criança feliz.
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