Turma Formadores Certform 66

Tuesday, July 03, 2018

27 anos depois

Passam hoje 27 anos sobre o falecimento do meu avô e padrinho, José. Ele foi o meu mentor desde que nasci até praticamente a sua morte. A ele devo tudo o que sou e disso me orgulho muito. 27 anos passaram entretanto desde aquele entardecer duma noite quente de julho. Quando o vim visitar a casa de minha mãe ele disse: 'Despede-te do teu avô porque nunca mais o verás vivo'. Achei estranho tudo aquilo e senti-me incomodado. O meu sogro estava presente e no caminho que fiz até à sua casa, ele ia-me dizendo que aquilo são coisas de pessoa idosa e que não me preocupasse. Mas o meu coração dizia-me precisamente o contrário. Cerca de uma hora depois, já em minha casa, recebi o telefonema de que ele tinha falecido. Há coisas estranhas no mistério que encerra a própria morte. Penso que ela nos prepara para a partida e talvez até nos dê um vislumbre daquilo que nos espera numa outra dimensão. O meu avô esteve sempre consciente, e por isso, estas coisas calam mais fundo no coração. Como aquela em que, dias antes de morrer ele me dizia: 'Que lindo jardim para onde vou. Se todas as pessoas soubessem isso não tinham medo da morte'. E ele que tanto medo tinha da morte, quando ela se aproximou ele recebeu-a com carinho. Sem receio e até com vontade de partir. Quis que lhe fizesse um jazigo para lá ser sepultado junto da minha avó que entretanto já tinha partido. Todos os dias me perguntava se ele já estava pronto para morrer, segundo dizia. O certo é que no dia em que ele ficou concluído ele disse-me: 'Agora que já está pronto, já posso morrer. Amanhã morrerei'. O certo é que morreu mesmo de acordo com aquilo que predisse. São estes mistérios que a morte encerra que me deixam a pensar. Quando nós tivermos a perceção disso, já será tarde demais para o contarmos a quem quer que seja. E assim, o mistério da vida e da morte, esta talvez uma outra forma de vida, se perpetua. Hoje cumprem-se 27 anos sobre estes factos que aqui relatei, mas tudo me parece tão próximo que tenho dificuldade em aceitar que quase três décadas já passaram. A memória, essa continuará enquanto a minha caminhada terrena existir. Os mortos só morrem mesmo quando os esquecemos. E eu não esqueci porque não posso fazê-lo. Porque não quero que isso aconteça. 27 anos depois só me resta proclamar que lá onde estiveres que estejas em paz, meu avô, José!

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