Contra as touradas, sim!
Confesso que ontem me senti triste para não dizer insultado. A proposta do PAN para acabar com as touradas foi rejeitada por um bando de gente que tudo faz para sacar o voto a todos nós e quando lá chegam pensam que são os donos disto tudo. Gente sem escrúpulos, sem humanidade, que acham que são alguma coisa - e são-no por momentos - porque depois da política desaparecem que nem fumo. Nunca pensei que no meu país se pudessem acoitar um grupo deste jaez. Porque a desumanidade das touradas, a sua barbárie, a tortura dum ser vivo (com o mesmo direito à vida que cada um de nós) é ali humilhado até à morte. E sei bem do que falo porque nem sempre pensei assim. Chegado aqui quero fazer a minha declaração de interesses. Enquanto criança corri as praças de touros com os meus pais que eram aficionados. Um contra senso até porque eram amigos dos animais. Mas enfim, era assim. Diziam-me no início que os touros eram recolhidos no fim das 'faenas' eram tratados e ficavam bem. Era a maneira como punham termo às perguntas duma criança que começou cedo a sentir-se incomodada com aquilo. Mas em Espanha era ainda mais violento e a tortura bem maior. (Sempre me senti dividido face àquilo que via por cá e o que observava em Espanha. Porque a morte do touro na arena pode parecer bárbaro, mas põe fim a um sofrimento atroz. Por cá, o touro não morre na arena, mas está, por vezes dias, num grande sofrimento até ser abatido. A maneira sádica como lhe arrancam as 'bandarillas', até à dor, sofrimento e transporte para os matadouros em condições desumanas, quando chega a hora da morte, o pobre animal até talvez tenha desejo dela para acabar com tanto sofrer, que não merece, nem compreende. Muitas vezes, já debilitado, febril, mal se sustentando nas pernas, é o quadro com que aparece para enfrentar a morte que - temporariamente - o ignorou na arena. Vi muito disto, vi como quando o touro não morria na arena em Espanha, era assassinado por um toureiro com um cutelo no meio da córnea. Vi cavalos ensanguentados, vi chão das arenas cheio de sangue, vi o sadismo e o ódio incompreensível nos rostos de quem patrocinava o 'espetáculo'. Vi o olhar do touro, um olhar vazio e sofrido, não compreendendo o porque de lhe estarem a fazer aquilo. Vi o sangue a jorrar como uma fonte do seu dorso, via alucinação dum ser que não merecia aquilo. Sim, vi tudo isso e não aguentei. (Aqui quero fazer uma confissão. Apesar daquilo que me diziam, lá bem no íntimo eu achava que não era bem assim. Até que um dia descobri a verdade. E se sempre fui amante dos animais, nessa altura escolhi de forma definitiva, o lado em que queria estar. Nessa altura, o ser defensor dos animais era algo de exótico e impensável. Os tempos eram bem diferentes). É que uma coisa é ver na televisão as touradas - normalmente filmadas à distância e sem grandes planos das feridas do touro -, outra é estar próximo e ver a realidade que poucos conhecem, desde o sofrimento, o olhar do animal que chora face à sua dor e humilhação, é por-mo-nos no lugar dele e tentar sentir o que ele sente. Por isso não entendo esta gente que acha que um animal é um objeto, que não tem sentimentos, nem sente dor. Gente que votou contra e minutos depois já nem se lembra que condenou outros seres - tão dignos quanto eles - à tortura e morte vil. É algo que acho impensável e não esperava ver no meu país em pleno século XXI. Mas a força do povo é grande e em democracia está no voto. Assim, será bom que não esqueçam quem votou contra e os penalizem nas eleições. Porque gente desta não merece representar um povo, quando apenas representa um grupelho de gente cada vez menor, e será nas eleições que deverá sentir que traiu as expectativas da maioria da população. Ontem foi um dia negro para os animais, mas também para a nossa democracia.
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