Férias... ou talvez, não!...
Tecnicamente entro hoje em férias. Digo 'tecnicamente' porque férias é algo que não conheço vai para 17 anos, desde a altura em que a minha mãe morreu. Quando partiu deixou-me três cadelas que ela tratava com muito amor e carinho e sempre me pediu que cuidasse delas o melhor possível. Sabia que eu o faria sem ter necessidade do seu pedido, mas mesmo assim fê-lo. Durante todos estes anos poderia tê-los colocado num hotel e ir viajar como sempre tinha feito até essa altura. Mas sempre me senti incapaz de o fazer deixando para trás seres que eram importantes para mim. Nunca fui capaz de tal atitude, era como se deixasse para trás um filho, pelo prazer de viajar. Em vez de correr mundo, acabei por adotar outros animais que, entretanto, ia recolhendo na rua. E do pensamento ao gesto tudo foi muito rápido. A minha casa encheu-se de animais. E com eles vieram alegrias imensas que a companhia de tais seres é capaz de proporcionar. Os anos foram passando e eles foram partindo para um outro plano astral onde, acredito, um dia nos cruzaremos todos de novo. Apenas o Nicolau ficou. Vai resistindo à velhice e à doença. E agora, por maioria de razão, ele também não ficará para trás. Continuarei aqui no meu espaço, na sua companhia. O Nicolau não pode estar sozinho, e disso os veterinários logo nos informaram, quando à pouco mais de um ano, ele ficou enfermo. Assim, quando um sai o outro tem que ficar. Porque a sua debilidade assim o impõe. Embora o Nicolau tenha ainda uma certa autonomia, esta está longe daquela de outros tempo. Precisa de nós em coisas tão básicas como subir uma escada. Por isso, aqui estamos, renegando tudo em nome de valores que consideramos maiores, a saber, o bem estar dum ser nobre que, tal como todos os outros que passaram pela minha vida, tudo deram sem nada pedir em troca. Seres nobres que deveriam ser exemplo para muitos humanos que não têm pejo em deixá-los para trás em nome das famosas férias, ou até, em descartá-los numa qualquer estrada, onde sofrerão horrores até à sua morte anunciada, a menos que se cruzem com qualquer humano de coração largo que os ajude. Sempre que chega a este período dito de férias é vê-los a vaguear pelas ruas, perdidos, sem saber o porquê do que lhes aconteceu, buscando o dono em quem sempre confiaram que, entretanto, já nem se lembra deles em nome das férias que acham merecidas, mas que não incluem aqueles que sempre lhes deram amor e que nada pediram em retorno. Porque não sou capaz disso, estou 'tecnicamente' de férias, mas rodeado de muito amor e carinho. E no fundo isso é o que mais importa. Boas férias a todos e não deixem os vossos animais para trás, nem se descartem deles, eles também têm sentimentos como todos nós. Se querem ter essa liberdade, então não tenham animais, não lhes façam acreditar que são amados porque de facto não o são. Não passam de meros objetos. E isso ninguém quer ser, seja humano ou animal.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home