Em torno da questão dos incêndios
Voltamos de novo a ter na primeira linha da informação a triste realidade dos incêndios. Sei que é um tema difícil e controverso que sempre serve de arma de arremesso político. Lá virão pedir mais e mais demissões num cortejo de disparates que virou fobia nacional vai para muitos anos. Mas deixemos esses disparates políticos por agora. (Ao fim e ao cabo, estamos na chamada 'silly season' embora para muitos esta se prolongue pelo ano todo). Mas quero aqui concentrar-me naquilo que de mais dramático e pungente tem a questão dos fogos. Vimos assistindo há muitos anos a uma alteração estratégica de combate aos fogos que não parece ser a mais correta. Ainda ontem a Associação de Bombeiros Profissionais colocava o tema - como aliás vem fazendo ano após ano - e alguns especialistas convidados a pronunciarem-se sobre a questão vão alinhando pelo mesmo diapasão. Neste momento Portugal não tem bombeiros preparados para enfrentar esta alteração do clima que vai provocando cada vez fogos mais violentos com efeitos brutais e fenómenos que não era costume verem-se por cá. Muita coisa mudou, - desde logo o clima -, enquanto que as pessoas não foram sendo recicladas para a nova realidade. Noutro tempo, os bombeiros atacavam os incêndios na sua origem, agora ficam a olhar para ele esperando que ele se aproxime das habitações para atacar. (E entretanto, vão somando o número de hectares ardidos. Já para não falar na praga do eucalipto que, como cantava aquele grupo de jovens que estavam no Algarve, 'o eucalipto vai fazer arder Portugal de cima a baixo'. Mas sobre este assunto quase que não se ouve nada porque os interesses em jogo são demasiado poderosos). Só que quando isso acontece, normalmente é tarde demais. Temos visto isto duma forma clara nos últimos anos. O desnorte, a aparente confusão das ordens de comando é por demais evidente e as televisões transmitem isso duma forma clara. Este ano, e depois das tragédias que se verificaram no ano transato, ainda se refinaram mais as coisas. Pegam nas pessoas a esmo, sem critério claro, e retiram-nas das suas casas. Por vezes, duma forma questionável, e que depois justificam com a palavra 'preventiva' para amenizar a revolta das populações. Que se salvaguardem as pessoas e os bens, estou de acordo, mas duma forma prudente e não à primeira fumaça. Parece que o importante é a estatística mais do que tudo o resto. As forças de segurança também anda ali mais ou menos sem rumo, cumprindo as ordens que lhe dão mas, muitas vezes, duma forma bem controversa. É preciso que estes agentes sejam preparados para lidar com situações destas em momento de grande desespero para as populações. Mais uma vez recorro às imagens televisivas para ver como retiravam as pessoas, duma forma autoritária, para não dizer brutal. É necessário que se compreenda que pessoas que estão na iminência de perder todo o que conseguiram durante uma vida, não estejam dispostas a deixar para trás tudo duma forma leviana. (E até alguns que conseguiram ficar, acabaram por salvar os seus bens enquanto outros que foram retirados perderam tudo, porque não ficaram a defender o que era seu, e os bombeiros não podem estar em todo o lado). Tem que haver compreensão e isso não se vê, fruto da impreparação das pessoas para lidar com estas situações extremas. (Já para não falar nos modos que rondam a agressividade com que lidam com as populações; já para não falar nas nódoas negras que algumas pessoas mostravam, quando foram arrancadas das suas casas pelas forças de segurança e disso davam nota. 'Ou sai a bem ou a mal' era aquilo que, segundo as populações, eles diziam). Sei que nestas situação uns segundos a mais ou a menos faz toda a diferença, mas mesmo assim, terá que haver mais compreensão para com as populações colocadas em situação extrema, Tudo isto para dizer que ainda muito há para fazer, e quando me falam em meios, penso que nem é aqui que está o problema, mas sim, nas hierarquias e na necessidade duma reciclagem urgente. Já o ano passado, depois dos terríveis fogos que tivemos, coloquei esta questão. Aliás venho falando nisto há vários anos e parece que tudo continua igual. Muitas vezes procuramos o 'tesouro' no sítio errado quando ele está debaixo dos nossos olhos. Cada vez mais é urgente a formação das pessoas envolvidas nestes dramas e não tanto na nomeação por critérios políticos para lugares de chefia sejam lá eles quais forem. Se não existem pessoas habilitadas dentro das fronteiras pois que se convidem outras com mais experiência para vir dar formação e treino. A todos e não só aos bombeiros para ver se acabamos de vez com este triste espetáculo que damos ao mundo.
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