Feliz Natal!
E cá chegamos de novo ao Natal neste ciclo interminável da vida e do calendário. Depois da alegria dos enfeites, do presépio e da árvore, começa a minha contagem decrescente para a festividade com um crescendo de angústia. Já disso aqui vos falei variegadas vezes num reflexo quase pavloviano que ano após ano se repete. Coisas dum outro tempo já relativamente longínquo que a memória se recusa a eliminar. Mas angustiado ou não, o Natal aí está com o seu cortejo de luzes, prendas, comida, etc., que é o tradicional para a maioria das pessoas. Sou daqueles que não olha assim para o Natal. Neste dia sempre me lembro daqueles que já partiram, que deixaram o seu lugar vazio à mesa, mas que a recordação vai preenchendo. Lembro-me de todos os que não têm o conforto duma casa, o aconchego duma mesa abastecida, dum presente por mais modesto que seja só para lembrar que alguém os considera. Lembro-me dos animais acorrentados, ao frio e à chuva, lembro-me de outros que nada têm para se abrigar ou comer, lembro-me dos explorados para gáudio da populaça. Mas revejo também uma natureza desrespeitada, onde muitas árvores são mutiladas para servirem um percurso de poucos dias, findo os quais são atiradas para o lixo. Lembro-me de tudo o que não é alinhado com a tradição que se foi sedimentando ao longo dos anos, ao fim e ao cabo, lembro-me do puro Natal, aquele que representa um ser frágil humildemente deitado numa manjedoura, daquilo a que chamo o Natal primordial, aquele que o tempo e o consumismo fizeram esquecer, onde os símbolos maiores são substituídos por outros mais atuais que a moda impõe, ano após ano diferentes, porque é necessário ao negócio. O Natal dos simples substituído pelo Natal dos vendilhões do templo. Vendilhões modernos tergiversados de modestos e simples, porque a época a isso leva. O Natal espiritual substituído pelo Natal de fachada, sem sentido, onde tudo é alterado para encaixar na norma vigente. Por tudo isto, o Natal para mim tem um significado outro, um simbolismo outro, mas que quero que chegado o dia este passe depressa. Coisas incompreensíveis que talvez só para mim façam sentido. Mas é assim que olho para o Natal tentando celebrá-lo na frugalidade de antanho. Mas isso não me impede de desejar a todos os meus amigos, a todos os que não o são, a todos aqueles que gostam de mim, mas também a todos os outros de quem não gosto tanto, um Feliz Natal! Boas Festas para todos!
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