De novo me cruzei com as veredas da vida
Palmilho a noite. Um friozinho leve vai-me acompanhando. Ao fim de um quilómetro já não se sente é apenas uma quimera. Ao cruzar a noite, cruzo-me também com algumas pessoas, embora poucas, que vão a caminho dos seus empregos onde entram muito cedo, ou então aqueles desgraçados que a coberto da noite escondem a indiferença a que a vida os votou. Lembram-se de à dias vos ter falado dum pobre desgraçado que tinha sido operado mas não tão bem assim, mesmo depois duma segunda cirurgia. Pois hoje voltei a cruzar-me com ele. Agarrado ao seu velho carro de supermercado lá vai tentado encontrar papel nos contentores do lixo. Perguntei-lhe como as coisas estavam. Disse-me que agora estavam bem melhor. Tudo estaria a correr bem e no final deste mês teria uma nova avaliação médica da sua situação. De novo, como à dias já tinha acontecido, aquele sorriso confiante apareceu com aquele sentimento de que tudo iria dar certo. Que tinha fé nisso. Vi-lhe o brilho nos olhos, aquele brilho sincero de quem acredita que será mesmo assim. Desejei-lhe melhoras e ele, de novo, brindou-me com aquele sorriso luminoso que corta a noite e nos faz estremecer. Agradece circunspecto mas sorri muito. Um sorriso franco e sincero. Talvez porque alguém lhe ter dado atenção, ele que caminha nas sombras da noite e da vida. Talvez porque confia que finalmente a sua qualidade de vida vai melhorar. Ou porque não as duas. Segui a minha jornada e ele a dele. Mas nada foi como até aí. É como se essa luz que o percorre também me quisesse fazer alguma companhia. Não sei quando o verei de novo. Talvez amanhã, ou para a semana, ou para o mês próximo. Não sei. Mas sei que nos voltaremos a encontrar algures numa madrugada qualquer.
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