Critico porque sim

Há pessoas que criticam tudo e nada como tudo e nada fossem uma e a mesma coisa. É o patrão porque sim, é um vilão a quem todo o mal é atribuído; é o líder do partido porque sim, mesmo que ele fale ao coração das pessoas tem sempre algo de irritante nem que seja na pose; é o Papa porque sim, atribuindo-lhe coisas de que ele não tem culpa, nem sequer conhecimento, certamente; critica-se o governo porque sim, por melhores medidas que implante, chegando ao ponto de elogiar algumas que não o mereciam em detrimento doutras que são bem vindas; critica-se o treinador do clube de futebol porque sim, embora ontem fosse um herói hoje passou a ser uma pessoa questionável só porque o clube de eleição perdeu um jogo não percebendo que ganhar e perder faz parte deste; critica-se o vizinho porque sim, talvez ele não esteja a seguir o nosso padrão de vida, sem que nos interroguemos se o nosso padrão de vida é o melhor; enfim, critica-se tudo porque o criticar está na massa do sangue, embora nunca se abram as linhas para quaisquer alternativas. Ficamos só pela crítica fácil e suez, e basta. Então nas redes sociais é um fartote. Sei que a maioria das pessoas que por elas passa não estarão tão disponíveis assim para analisar e aprofundar as situações, documentar-se antes de falar. A superficialidade é o mote. Vai daí a crítica sempre viperina é o resultado. Isto é um mal nacional, num país onde a cultura escasseia apesar da escolaridade aumentar, num processo maquiavélico que leva ao nada. Já o dizia Eça, Ramalho, até o distante Camões. Afinal não evoluímos tanto assim. A superficialidade, a pequena inveja, a maledicência mal contida são, afinal, um desígnio nacional. E assim vamos felizes e contentes porque sim.