Turma Formadores Certform 66

Saturday, December 05, 2020

Porquê?

Era já noite. Uma noite fria e gélida, Chovia com intensidade e o vento uivava. Os raios rasgavam o céu e os trovões parece que abalavam tudo em redor. Pedro continuou a caminhar indiferente à intempérie. Apenas caminhava com mais dificuldade porque o vento o impedia. Estava determinado, era hoje ou nunca. Dirigiu-se à casa de Adelaide a sua ex-companheira, não por vontade própria mas por vontade dela. E queria uma explicação. Finalmente tinha ganho coragem para perguntar porque ela o deixara. Nada na vida o indiciava. Ele tinha sempre sido um bom marido, o mais amável e cordial com ela, a sua vida tinha sido um verdadeiro romance até esse fatídico dia. Que tinha acontecido? Era esta a resposta que Pedro buscava. Primeiro dentro de si, como não a encontrou, decidiu ir buscá-la a Adelaide. E Pedro lá continuava o seu caminho indiferente a tudo o que se passava em seu redor, completamente encharcado, mas não dando por isso, a sua mente estava focada na resposta que almejava. Começou a subir a íngreme ladeira indiferente à torrente de água e lama que por ela descida num rio interminável e de corrente forte. O cansaço era muito mas ele nem dava por isso e continuava com a mesma determinação com que tinha saído da casa onde vivia atualmente. Finalmente chegou à casa de Adelaide, uma casa que ele tão bem conhecia, com o seu amplo jardim em redor cheio de plantas belas e árvores frondosas. Passou o portão de ferro, que logo rangeu nos gonzos, e entrou. Começou a sentir receio, já se questionava ter vindo. Mas lá continuou pela vereda, agora já sentindo o frio e a humidade que o envolvi-a e lhe gelava os ossos, ou seria o sentimento de confusão face à resposta que poderia ouvir. O vento uivava ainda mais forte quase vergando as árvores centenárias que ele se tinha habituado a admirar. Das suas inúmeras folhas caiam grossas gotas de água, que o encharcavam ainda mais. Chegou à porta, aquela porta grossa e maciça que ele tantas vezes flanqueara. Hesitou em tocar à campainha. Será que ela teria outro homem com ela? Seria por isso que o trocara? Não, definitivamente não, Adelaide não era dessa espécie de mulheres, pensou para consigo. Finalmente decidiu-se e tocou. Poucos instantes após o toque logo a porta se abriu e Olga, a criada bonacheirona que à muito vivia lá em casa, apareceu. Ficou atónita e pálida como se tivesse visto um fantasma. Mas disse a Pedro para entrar que fosse para junto da lareira para se aquecer. Mas Pedro quase que nem a ouviu. Correu escadas a cima em direção ao quarto que em tempos também tinha sido o seu. Abriu a porta de rompante na expectativa de surpreender algum amante. Mas nada. Na semiobscuridade do quarto viu Adelaide deitada, muito pálida e magra, quase cadavérica. Esta ainda ergueu os olhos para ele, mas não se mexeu. Nenhuma palavra foi dita. Logo atrás apareceu Olga, ofegante para subir as escadas e ficou à porta. Pedro não teve coragem para fazer a fatídica pergunta, mas foi Olga que, como se adivinhasse, lhe esclareceu a dúvida. Olga na sua voz arrastada lá foi dizendo que a sua ex-mulher não o tinha traído com ninguém, apenas tinha tomado aquela decisão depois de conhecer a sua doença terminal que a prostrou e a arrastou para aquela decadência. Adelaide e Pedro tinham vivido um verdadeiro romance. Ambos jovens e bonitos, eram admiração para quem os conhecia. Mas a doença de Adelaide viria a interpor-se entre eles. E esta tinha tomado a decisão de se separar de Pedro para que ele não visse a destruição lenta que a doença lhe fazia, temendo que ele não aguentasse e tomasse ele o caminho da separação. Enquanto Pedro, que tinha ficado hirto face a semelhante quadro dantesco ouvia isto de Olga, as lágrimas rebentaram-lhe nos olhos, tão grossas e espessas, que rivalizavam com aquelas que existiam lá fora e que escorriam pela vidraça tocadas pelo vento forte. Pedro chorava num choro sincero e sentido. Foi então que se dirigiu ao leito de Adelaide, agora uma imagem sombria da mulher que ele tinha conhecido, e lhe beijou os lábios, tão cálida e docemente, como se fosse um murmúrio. Esperava a reação de Adelaide. Esta não veio embora houvesse um certo esboçar dum leve sorriso. Olhando mais atentamente Pedro verificou que a sua querida Adelaide finalmente tinha partido depois de rever o seu Pedro que ela adorava profundamente.

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