Turma Formadores Certform 66

Monday, February 01, 2021

Questões fraturantes

Do aborto à eutanásia passando pelo casamento gay, estas são questões fraturantes do nosso tempo que não em exclusivo da nossa sociedade. Antes de avançar faço a minha declaração de interesses: são católico e não concordo com nenhuma delas. Se em tempos se discutiu a questão do aborto que hipocritamente muitos se opuseram -alguns que até conheço daí o epíteto de hipócritas - eu fui dos que votou a favor. Dirão alguns que estou a ser incoerente, quiçá até, cínico. Mas não penso isso. Porque embora eu não concorde com eles, não tenho o direito de impor a minha vontade a outrém. A minha vontade não é melhor nem pior do que a dos demais, daí o contribuir com o meu voto para dar uma opção de escolha, depois será a consciência de cada um a ditar o resto. No caso recente da eutanásia tudo se passa de igual modo. Não houve referendo, mas se houvesse, votaria a favor. Não que concorde mas não devo coartar o direito dos demais de assumirem posições contrárias. Conheço casos - todos nós conhecemos casos desses - em que a eutanásia será uma benção face ao sofrimento atroz. Por isso acho que tenho o direito e o dever de dar liberdade ao meu semelhante para pensar o que será melhor para si. Se a altura foi bem escolhida, talvez não, mas em questões destas não pode haver um tempo oportuno. Todo ele o é ou não consoante a perspetiva. Tenho ouvido muitas homilias vindas do clero que se opõem a todas, - todos sabemos que a Igreja sempre foi muito conservadora -, mas acho que aqui, mais uma vez, a Igreja está a perder o comboio do tempo e da História e assim verá mais um grupo de pessoas a virar-lhe as costas. Longe vão os tempos dos temores que a Igreja inspiravam às pessoas. Os tempos mudaram e quem fica parado acaba por ficar inexoravelmente para trás. Tal como a legalização dos casamentos gay que apoiei pelas mesmíssimas razões. E deixem que vos diga que conheço casais gay que são imensamente felizes ao contrário de outros heterossexuais. E aqui até o Papa Francisco não ficou indiferente, um grande avanço para a Igreja. Os telhados escondem muita coisa podem crer. Estas são questões fraturantes e de difícil decisão para muitos, mas seja qual for a nossa opinião, não temos o direito de a impor a terceiros. Legalizemos e depois será a consciência de cada um a ditar o comportamento e a atitude. Mais do que questões mesquinhas está a liberdade do outro, aquele outro que pode pensar de modo diferente de nós, mas que não pode ser marginalizado por isso mesmo. Todos os avanços da sociedade foram fruto dum corte epistemológico, um rasgar de convenções face a novos olhares do mundo. E assim a Humanidade tem progredido e assim continuará. Não podemos empurrar para trás o comboio da História porque o mais provável que nos pode acontecer é ser esmagado por ele.

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